Apresentação/Introdução
A pandemia desafiou gestores e trabalhadores de saúde a pensar em estratégias de enfrentamento do novo coronavírus de forma ágil e inovadora. Para o enfrentamento da Covid-19 nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), a Secretaria Municipal de Saúde, juntamente com a Secretaria Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania e Hospital das Clínicas, criou o ‘’Projeto ILPI BH’’, uma iniciativa pioneira, de abrangência municipal e intersetorial, com eixos estruturantes para o atendimento e acompanhamento dos idosos institucionalizados, tendo como missão salvar vidas. Entendendo que as ILPIs, reuniam condições ideais para a transmissão do SARS-CoV-2: idosos frágeis, ambiente fechado com grande circulação de pessoas, dificuldade em isolar o idoso positivo, o projeto fundamentou-se em duas frentes estratégicas: implantação da Unidade de Acolhimento Provisório de Idosos (UAPI) e no acompanhamento da saúde de cerca de 1.991 idosos das 115 ILPIs cadastradas no projeto. A UAPI foi implantada em junho de 2020 e finalizou suas atividades em janeiro de 2022. Todo idoso com suspeita de Covid-19 era imediatamente encaminhado para UAPI a fim de promover o cuidado, testagem RT-PCR e medidas de isolamento humanizado. A permanência dos idosos positivos na unidade, permitiu reduzir surtos da doença e seus agravos na instituição de origem, diminuição da incidência, internações e óbitos.
Objetivos
Implantar Unidade de Acolhimento Provisório de Idosos no município de Belo Horizonte como estratégia de enfrentamento da COVID-19. Identificar e transferir os idosos suspeitos de COVID 19 de instituição de longa permanência do município de Belo Horizonte para Unidade de Acolhimento Provisório de Idosos (UAPI). Reduzir surtos da doença e seus agravos nas instituições de longa permanência, diminuindo incidência, internações e óbito.
Metodologia
Partindo da premissa de universalidade e compromisso com a equidade associado ao cenário internacional de alta letalidade pela COVID-19 em idosos institucionalizados no início de 2020, o projeto definiu instituições mais vulneráveis do ponto de vista de infraestrutura e cuidados em saúde para o acompanhamento sistemático do Centro de Saúde e parceiros intersetoriais. Do total de 239 ILPIs de Belo Horizonte, foram incluídas todas as 28 filantrópicas e 87 privadas, totalizando 115 ILPI com cerca de 1.991 idosos institucionalizados. Foi realizado diagnóstico situacional e capacitação das equipes das instituições envolvidas quanto aos fluxos de encaminhamento e monitoramento dos idosos residentes. Em junho de 2020, foi implantada a Unidade de Acolhimento Provisório de Idosos (UAPI) com equipe multiprofissional, funcionamento 24 horas, de forma ininterrupta. Todos os idosos sintomáticos respiratórios leves, suspeitos de COVID-19, sem indicação de internação hospitalar, eram imediatamente encaminhados para a unidade. O usuário ao chegar na UAPI era acolhido com avaliação clínica funcional e realizado notificação e testagem RT-PCR. Idosos com resultado positivo permaneciam na unidade por 14 dias e os casos negativos retornavam para a instituição de origem. Cada idoso que recebia alta, apresentava em seu olhar o sentimento de vitória e esperança e cada trabalhador a certeza que estávamos no caminho certo.
Resultados
O projeto acompanhou cerca de 1.991 idosos de 115 ILPI. Destes, 28,1%, ou seja, 560 idosos com suspeita de COVID 19 foram transferidos para a UAPI. O perfil etário deste público demonstrou uma predominância de idosos acima de 80 anos e do sexo feminino, sendo 52,81% e 69,1% respectivamente. Quanto ao grau de dependência 23,26% eram totalmente dependentes, 61,63% parcialmente dependentes e 15,11% independente para as atividades de vida diária. Dos 560 idosos encaminhados, 234 testaram positivo para COVID-19, apresentando 41,8% de positividade. Deste total, 87 idosos (15,5%) apresentaram intercorrência clinica sendo necessário encaminhar para a Unidade de Pronto Atendimento e 11 idosos (1,9%) encaminhados para o nível hospitalar. Do total de acolhidos, 08 idosos vieram a óbito, com 1,4% de letalidade. Nenhum óbito ocorreu na UAPI. Quando comparamos as consequências da COVID-19 para os idosos residentes nas ILPI do Brasil e de Belo Horizonte, observamos que conseguimos minimizar os danos e evitar mais de 90% dos óbitos estimados para a população idosa institucionalizada no nosso município, com as ações integradas de rápido reconhecimento e isolamento dos sintomáticos leves, monitoramento dos contactantes e ampla testagem. Tudo isso foi fundamental para a quebra da cadeia de transmissão da doença nestes espaços em um contexto de conhecimento científico insuficiente acerta da doença, alta velocidade de transmissão e falta de vacina para o enfrentamento da pandemia.
Conclusões
Foi a força e potência de ações intersetoriais integradas adotadas pelo município que demonstraram que 55% das mortes atribuíveis à COVID-19 no Brasil, poderiam ter sido evitadas se tivessem taxas semelhantes às observadas em Belo Horizonte, o que significariam 329.000 vidas salvas no país. A estratégia de implantação da UAPI, uniu esforços para cuidar de idosos frágeis com expectativa de sentença de morte frente à pandemia, onde os mesmos, sendo os mais vulneráveis e susceptíveis puderam dizer ‘’eu venci a COVID-19’’. Durante 2 anos de cenário epidemiológico assustador, muitos problemas foram enfrentados diante de uma doença desconhecida que nos desafiava a cada instante a pensarmos de forma diferente. Pensamos, criamos, implantamos e aprendemos que uma rede forte e integrada, tendo a atenção primária como a coordenadora do cuidado faz toda a diferença na vida de uma comunidade, de um município.
Palavras-chave
COVID-19, idosos, Instituição de Longa Permanência