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Castanhal - PA

EPISIOTOMIA ZERO NAS PRÁTICAS OBSTÉTRICAS DE UM CPN PERI HOSPITALAR NO NORTE DO BRASIL

Autor(a): Thais Lopes do Amaral Uchôa

Coautor(a): LAYSA BALIEIRO PINHEIRO, Mírian Sales de Andrade, Camila Cristina girard Santos, Laura de Fátima Lobato Silva

Ano: 2022

Apresentação/Introdução

Com a hospitalização do parto, o nascimento passou a ser considerado um processo patológico, e o corpo feminino passou a ser visto como incapaz de enfrentar este processo sem uma intervenção obstétrica para prevenir complicações (AMORIM E KATZ, 2008). Neste aspecto, destaca-se a episiotomia, caracterizada pelo corte cirúrgico na pele e músculos realizado na região do períneo, normalmente com a justificativa de proteger o períneo feminino de lacerações graves e facilitar a passagem do feto pelo canal de parto (KAMPF E DIAS, 2018). Com o pressuposto de prevenir lacerações perineais graves, e melhorar a vitalidade ao nascer, prevenindo hipoxia. Esta verdade foi aceita incontestavelmente no cenário obstétrico em todo o mundo, embora a falta de evidências científicas confiáveis (AMORIM E KATZ, 2008). De acordo com uma revisão sistemática que incluiu oito ensaios clínicos randomizados e um total de 5541 parturientes, submetidas à episiotomia seletiva ou rotineira, houve maior benefício no uso seletivo da episiotomia se comparado ao seu uso rotineiro (CARROLI E BELIZAN, 2009). Para Amorim e Katz (2008), não houve diferença nos resultados perinatais nem redução da incidência de asfixia nos partos com episiotomia seletiva se comparado a episiotomia de rotina e consideram que a episiotomia é, em si, uma laceração perineal de segundo grau, e quando ela não é realizada pode não ocorrer nenhuma laceração ou surgirem lacerações anteriores, de primeiro ou segundo grau, espontâneas.

Objetivos

A recomendação atual da Organização Mundial de Saúde (OMS) não é extinguir a episiotomia, mas de restringir seu uso, admitindo-se que em alguns casos ela pode ser necessária. Entretanto, a taxa de episiotomia não deve ultrapassar 10% (OMS, 1996). No Brasil, a episiotomia é um procedimento cirurgico realizada no corpo de uma mulher saudável sem que seja necessário seu consentimento prévio. Estima-se que seja um procedimento atualmente praticado em 53,5% das parturientes brasileiras no parto normal (Leal et al., 2014), número muito acima do limite recomendado pela OMS. Desta forma, esse relato pretende demonstrar através de experiência na assistência humanizada e baseada em evidências, os resultados de uma assistência com índice zero de episiotomia, corroborando para as atuais evidências científicas de redução das taxas de episiotomia no cenário obstétrico.

Metodologia

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, com abordagem quantitativa, realizado no Centro de Parto Normal Haydee Pereira de Sena (CPNHPS), pertencente à prefeitura de Castanhal, interior do estado do Pará. O estudo avaliou os partos realizados entre janeiro de 2017 a dezembro de 2019. A coleta de dados se deu através do livro de indicadores do estabelecimento, juntamente a avaliação dos prontuários do período descrito. Foram avaliados então fatores que pudessem ser influenciados pelo uso rotineiro ou eletivo do procedimento, como vitalidade do recém-nascido (RN), com as variáveis: Apgar, necessidade de reanimação neonatal e possibilidade de contato pele a pele imediato na 1ª hora de vida para RN com boa vitalidade ao nascer e resultados perineais através dos registros de lacerações ocasionadas pela passagem espontânea do feto no canal vaginal.

Resultados

Segundo os dados coletados, do ano de 2017 a 2019, foram registrados 386 partos no CPNHPS, em Castanhal. Destes, o CPNHPS registrou o índice zero de episiotomia, ou seja, durante os últimos três anos não houve registro da prática de episiotomia em nenhuma mulher assistida no estabelecimento. Em relação à vitalidade do recém-nascido, avaliou-se primeiramente a possibilidade de contato pele a pele imediato e durante a primeira hora de vida do bebê, o que é recomendado para RN com boa vitalidade fetal. Do total de partos assistidos no período descrito, 94,5 % foi colocado em contato pele a pele imediato durante a primeira hora de vida. Quando o RN, não nasce com uma boa vitalidade, é recomendado então que sejam realizadas manobras de Reanimação neonatal para sua estabilização. Quanto aos RN que necessitaram de reanimação neonatal ao nascer, identificou que somente 10,6% precisaram do procedimento, do total de parto nos últimos três anos. Para avaliar-se a boa vitalidade fetal dos RN no período, utilizou-se também a escala de Apgar, que avalia sua vitalidade no 1º e no 5º minutos de vida. Aonde somente 15% dos RN assistidos no período coletado, obteve um Apgar menor que 7 no 5º minuto de vida. Em relação a lacerações espontâneas, 10,5% das mulheres não teve nenhum tipo de laceração. E a grande maioria teve como resultado lacerações entre 1º grau não sangrantes, sem necessidade de rafia, cicatrizando por segunda intenção.

Conclusões

Os resultados encontrados nos registros do CPNHPS corroboram com as evidências da literatura contemporânea, ao demonstrar que o uso rotineiro da episiotomia não está relacionado à redução da morbidade materna e fetal, assim como seu uso rotineiro não previne lacerações mais graves, as quais tiveram incidência insignificativa. Com base nas evidências científicas, a episiotomia está associada ao maior risco de laceração severa, cabendo ao profissional da assistência buscar novas formas seguras para mudar este cenário. Os programas de educação continuada são uma excelente ferramenta para responder a estas questões e expandir horizontes correlacionando às vantagens e desvantagens da episiotomia. O olhar humanizado compreendendo o parto normal é um processo fisiológico, sem necessidade de intervenções dispensáveis pode contribuir para o baixo nível de episiotomia. É fundamental a maior exploração e aplicação das evidências científicas para proporcionar condutas assertivas e humanizadas, respeitando a singularidade de cada parturiente

Palavras-chave

episiotomia, corte vaginal, laceração vaginal,