Apresentação/Introdução
O aumento da população com Transtorno do Espectro Autista gerou a necessidade dos serviços de saúde a criarem estratégias de cuidado que sejam cada vez mais efetivos e que alcancem o maior número de pessoas. O modelo padrão de atendimento às pessoas com autismo tem sido baseado na clínica da estimulação das áreas do comportamento, da fala e das atividades diárias com seus respectivos especialistas de cada área. Este modelo de intervenção faz com que para o tratamento de cada pessoa com autismo seja necessário pelo menos 1 profissional de cada área a ser estimulada demandando um grande número de profissionais, correndo o risco do cuidado acontecer de forma fragmentado, além de não contemplar ações de cuidado voltados para os familiares destas pessoas. Todos estes fatores se tornam um grande problema quando pensamos nestes cuidados dentro de serviços públicos os quais se fundamentam-se em ações e tecnologias de tratamento e reabilitação que consigam atender o maior número de pessoas, que estejam em consonância com o contexto de vida de cada família e que atendam o princípio da integralidade do cuidado. Desta forma, a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba, através do Ambulatório Encantar, serviço de tratamento para crianças e adolescentes com TEA, implementou em 2019 algumas estratégias de cuidado que pudessem atender de forma mais ampla e resolutiva possível o cuidado a estas pessoas através da intervenção com suas famílias.
Objetivos
•Promover o protagonismo dos familiares no tratamento. •Incentivar e desenvolver apoio social para os familiares. •Desenvolver estratégias de autocuidado entre os familiares. •Ampliar o potencial de resolução de problemas/dificuldades dos familiares em relação ao quadro de TEA das suas crianças ou adolescentes. •Aumentar número de usuários atendidos pelo serviço. •Promover a integralidade do cuidado.
Metodologia
Algumas mudanças nos processos de trabalho e o desenvolvimento de algumas tecnologias foram necessárias a fim de ampliar o cuidado às crianças e adolescente com TEA e seus familiares: 1.Primeira consulta no ambulatório se dá pelo Grupo de Acolhimento dos Pais onde são convocados a serem protagonistas no tratamento e motivados a manterem um suporte social. 2.Avaliação multiprofissional compartilhada. 3.Avaliação das potencialidades e dificuldades das famílias e não só das crianças e adolescentes, através da Escala Parental de Adaptação à Deficiência. 4.Prática de atendimento baseada na Intervenção Mediada pelos Pais. Nas consultas os profissionais realizam intervenções e definem estratégias em conjunto com a família, a fim de desenvolver habilidades que possam ser realizadas e estimuladas pelos pais nos contextos da vida cotidiana. 5.As consultas são agendas quinzenalmente a fim de que os familiares possam utilizar e praticar as estratégias de cuidado planejadas durante os encontros. 6.Privilegiando atendimentos compartilhados entre especialidades do que ações de encaminhamento. 7.Disponibilizado Programa de Capacitação de Pais da OMS como recurso complementar para manejo das dificuldades cotidianas. 8.Criação do dispositivo Roda de Conversa de Pais para ajudar os responsáveis a desenvolverem estratégias de auto-cuidado e apoio mútuo. 9.Encerramento dos atendimentos a partir da autonomia da família no enfrentamento dos desafios do autismo.
Resultados
A partir das ações realizadas no serviço alguns impactos foram observados: •Maior protagonismo e autonomia na busca de recursos para a resolução das suas dificuldades. •Maior conscientização sobre o autismo, tratamento e os direitos da pessoa com TEA. •Ampliação por busca de acesso à políticas públicas que garantem os direitos da pessoa com TEA tal como, inclusão escolar, isenção de tarifas para PcD, entre outros. •Ampliação do repertório de cuidados parentais na promoção do desenvolvimento do filho com autismo e na sua integração da criança na família e na sociedade. •Familiares relataram que sentiram-se acolhidos e motivados diante e suas dificuldades •Alguns pais se destacaram como referência para sua comunidade enquanto fomentador de ações de apoio local. •Formação de grupo de pais nas suas comunidades como suporte social. •Maior vinculação dos pais nas terapias através da diminuição das faltas sem justificativa, das atividades propostas nas consultas sendo realizadas e no maior questionamento sobre como superar as dificuldades percebidas durante a realização das atividades de casa nos desafios da vida prática. •Profissionais ampliando sua atuação clínica para além de sua especialidade, promovendo a integralidade do cuidado. •Ampliação do número de famílias de crianças e adolescentes com TEA em atendimento.
Conclusões
Observou-se que as estratégias de cuidado utilizadas no serviço, deslocando o foco das ações das crianças e adolescentes para as famílias, potencializou as condições de intervenção, promovendo o fortalecimento dos vínculos, da autonomia e da qualidade de vida dos autistas e suas famílias. Os resultados demonstram que a lógica de trabalho fragmentada onde as especialidades atuam cada uma no seu campo de ação isoladamente, com intervenções centradas apenas na reabilitação da criança e adolescente, não contemplam as necessidades prioritárias de vida dessas pessoas e dos contextos onde estão inseridos. As famílias ou os responsáveis devem ser privilegiadas nestas ações, pois são eles que estão no dia a dia do enfrentando dos desafios que o autismo pode impor. Assim, as habilidades adquiridas pelos responsáveis integram permanentemente o seu reportório de cuidado ao longo da vida. As propostas, como a citada neste trabalho, vislumbram uma mudança de paradigma na assistência a estas pessoas, buscando uma sociedade mais inclusiva.
Palavras-chave
Intervenção Mediada pelos Pais, Autismo.