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Araucária - PR

MATRICIAMENTO PSIQUIÁTRICO NA UPA: ATENDIMENTO DE SAÚDE MENTAL NA URGÊNCIA E EMERGÊNCIA CLÍNICA

Autor(a): ANDRé LUIZ BASSO

Coautor(a): Nouey Staldiff Lourenço Vieira, Tatiana de Sousa, Luiz Gastão Zandoná Neto, Tayane Samistraro Staniszewski, Kelly Rosa Rigoni Lavarias

Ano: 2022

Apresentação/Introdução

“O matriciamento ou apoio matricial é um modo de produzir saúde em que duas ou mais equipes, num processo de construção compartilhada, criam uma proposta de intervenção pedagógico-terapêutica” (MS, 2011). O matriciamento psiquiátrico à UPA de Araucária teve início em abril de 2019, com o intuito formativo da equipe multiprofissional atuante na urgência e emergência, visando a construção compartilhada de atendimento dos casos de saúde mental. O número alto de pacientes que ocupam leitos de enfermaria, a escassez de leitos psiquiátricos e a complexidade dos casos, sobretudo, aqueles em contexto de vulnerabilidade social, acompanhados da fragilidade da condição de sofrimento mental, exigem da equipe de saúde uma preparação embasada em conhecimento técnico, habilidades sociais e empatia para o manejo adequado destes pacientes. Comumente usuários do SUS com transtorno mental e/ou uso de substância associado à uma questão clínica, que os levaram ao serviço de urgência e emergência, não recebem o acolhimento, atendimento e encaminhamento adequados. Durante a formação técnica dos profissionais de saúde em Urgência e Emergência, o foco é em compreender e tratar os transtornos clínicos agudos, negligenciando o atendimento integral à saúde, um dos três princípios do SUS. Com educação continuada em saúde é possível melhorar o atendimento prestado aos usuários, e assim reduzir a reincidência do usuário à UPA, com o correto manejo e encaminhamento após estabilização da crise.

Objetivos

O objetivo geral do apoio matricial, dos médicos especialistas em saúde mental à UPA, é promover educação continuada à equipe multidisciplinar do serviço de urgência e emergência (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e assistentes sociais) visando um melhor atendimento e encaminhamento dos casos de pacientes com transtornos mentais e/ou usuários de substâncias psicoativas. Reforçando assim os princípios de Equidade e Integralidade do SUS. Os objetivos específicos envolvem um amplo espectro de ações realizadas durante o matriciamento como aprendizagem sobre como realizar um melhor acolhimento ao paciente, anamnese psiquiátrica, discussão de casos, estratificação de risco, manejo de agitação psicomotora/intoxicação/abstinência, conduta farmacológica e encaminhamento após alta. Um objetivo primordial é o aprimoramento do trabalho conjunto dos serviços, incluindo maior proximidade e alinhamento das abordagens (CAPS, UPA, UBS, CREAS, hospital, casa de acolhimento, Centro POP).

Metodologia

O trabalho de matriciamento psiquiátrico à UPA se baseia em visitas com intervalo de dois a três dias em que o psiquiatra primeiramente se reúne com a equipe de plantão. Os casos que envolvem saúde mental são discutidos individualmente e a equipe da UPA passa as informações coletadas do caso (motivo da internação, anamnese, exame do estado físico e mental, histórico clínico e psiquiátrico, medicações em uso, evolução). Casos em que a equipe não se sinta segura e deseja uma avaliação mais precisa, ou o psiquiatra percebe maior complexidade são atendidos no leito. Matriciamento se diferencia de interconsulta, por priorizar Educação Continuada, portanto durante a avaliação os profissionais da UPA acompanham o atendimento (sempre respeitando um limite de uma a quatro pessoas para não gerar constrangimento ao usuário). Após a avaliação em leito a equipe retorna para discutir o caso, entender onde estava a dúvida e qual foi a abordagem do especialista que permitiu e resolução. Pontos também importantes são a discussão da farmacoterapia e seguimento do caso após estabilização aguda (alta, encaminhamento para UBS, CAPS, internamento domiciliar/hospital clínico ou psiquiátrico). Assim a equipe da UPA usa os conhecimentos adquiridos nos próximos casos que tenham similaridades. A rotatividade de médicos clínicos nas UPAs é comum. O trabalho visa melhorar o serviço com intervenções imediatas e a formação continuada dos profissionais.

Resultados

O matriciamento promoveu avanços no atendimento às demandas psiquiátricas na UPA de Araucária, fornecendo suporte para que a equipe atue com mais segurança e embasamento técnico. Possibilitando assim, os seguintes resultados: • Condutas mais alinhadas com a rede municipal de saúde mental, pois o usuário recebe alta com agendamento nos serviços especializados e orientações objetivas para continuidade do tratamento. • Diminuição do tempo de internamento na UPA, atribuída à melhor estabilização do quadro psiquiátrico devido ajuste mais eficiente das medicações e avaliação precisa das necessidades do paciente. Assim, há redução da sobrecarga do serviço e melhor aproveitamento dos recursos financeiros. • A conduta definida pela equipe é discutida com a família, quando possível, de forma que a aproxima do tratamento e a torna corresponsável. Caso não haja vinculação familiar busca-se suporte na rede socioassistencial. • Melhor avaliação e descrição dos casos que necessitam de internamento hospitalar, facilitando a aceitação dos pacientes na Central de Leitos Psiquiátricos do Paraná e a melhor utilização dos hospitais psiquiátricos; • Foi observada a tomada de condutas mais assertivas pela equipe que participa dos matriciamentos, e seu aperfeiçoamento no acolhimento das demandas psiquiátricas. Tais resultados apontam os benefícios do matriciamento para os usuários e sobretudo para a equipe, que recebe respaldo e aprendizado prático evidenciando assim seu papel pedagógico.

Conclusões

Transtornos mentais e uso de substâncias psicoativas são frequentes na população que busca atendimento na urgência e emergência, mesmo que esses não sejam a causa base do seu internamento na UPA. O Matriciamento em Saúde Mental tem se mostrado uma ferramenta efetiva no cuidado compartilhado da população entre os serviços de saúde de Araucária, cumprindo os objetivos apresentados, o que sugere que o trabalho matricial permite que outros municípios que não possuam CAPS III forneçam o melhor atendimento factível em saúde mental com os recursos disponíveis em sua região. Capacitar os profissionais para identificar e manejar a população de maneira integral melhora o fluxo dos usuários na rede. Houve experiências prévias, eventuais, de matriciamento em APS, auxiliando a equipe da Unidade Básica no seguimento dos casos de média complexidade, porém a aplicabilidade em UPA mostra-se com melhor custo-benefício. Os resultados obtidos no curto espaço de tempo desde sua implementação e ajustes são indicativos que esta ferramenta viabiliza os princípios de Universalidade, Integralidade, Equidade e Hierarquização do SUS.

Palavras-chave

Educação em Saúde, Saúde Mental, ASS, UPA, CAPS