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Pelotas - RS

O TRABALHO EM REDE DO CONSULTÓRIO NA RUA DE PELOTAS PARA A IMUNIZAÇÃO DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE RUA

Autor(a): Mytzly MArques Guex Dutra

Coautor(a): Graziela Ferreira Moraes, Sandra da Cruz Alvez, Bianca Medeiros da Silveira

Ano: 2022

Apresentação/Introdução

Este relato traz a experiência e as estratégias de imunização para COVID 19 da população de rua da cidade de Pelotas/RS realizada pelo Consultório de Rua no período de maio de 2021 a fevereiro de 2022. A equipe do consultório de rua (ECR) de Pelotas conta com duas enfermeiras, uma assistente social e duas agentes sociais. A ECR Pelotas acessou 400 cidadãos em situação de vulnerabilidade social no período de pandemia e ao perceber os riscos desta população, sua “invisibilidade” por muitas vezes não ocupar os espaços de promoção e prevenção da saúde e a sua baixa adesão aos tratamentos pensou estratégias de envolvimento da rede de Saúde, Assistência Social e Organizações da Sociedade Civil (OSCs) com a finalidade de imunizar o maior número possível de cidadãos.

Objetivos

Neste contexto o objetivo geral deste trabalho foi:“Imunizar o maior número de cidadãos em situação de rua na cidade de Pelotas/RS”. E os objetivos específicos elencados foram: “identificar os locais da rede mais acessados pela população de rua”, “definir estratégias de imunização da população de rua em espaços da rede e em seus territórios” e “realizar as ações de imunização em parcerias e de forma multiprofissional”. Em Pelotas a população de rua utiliza os espaços do Centro POP e CAPASS (Casa de Passagem) para higiene, alimentação e acolhimento noturno, ambos pertencentes a Secretária de Assistência Social. Assim como o Albergue noturno (entidade filantrópica) para acolhimento noturno e o Restaurante Popular para as refeições. Ao percebermos que estes locais teriam uma quantidade expressiva de usuários e por já conhecermos e dialogarmos com as equipes de tais serviços, elaboramos uma metodologia de ação que incluísse estes locais em nossos locus de imunização para COVID 19.

Metodologia

No mês de maio de 2021 quando foi disponibilizado imunizante para a população-alvo entramos em contato com os serviços descritos e elaboramos uma planilha de ação para imunização. As primeiras doses foram realizadas nos dias 18, 19 e 20 de maio nos períodos da manhã e da noite, nos serviços. Dia 18 de maio vacinamos na entrada do café e almoço no Centro POP e na acolhida noturna na casa de Passagem. No dia 19 realizamos imunização pela manhã com os redutores de danos em territórios de maior vulnerabilidade social e a noite na entrada da janta do restaurante popular. Finalizando a primeira etapa de imunização dia 20 fomos imunizar com a redução de Danos e a noite fomos na acolhida do Albergue Noturno de Pelotas. No mês de agosto voltamos aos mesmos locais e serviços para imunização da população com segunda dose. Neste processo de trabalho enfrentamos dificuldades no que concerne a adesão e aceitação da população que em um primeiro momento demonstrava insegurança e medo de fazer a vacina. Muitos não aceitaram por medos alimentados por fake news e falácias sobre reações adversas e “extermínio em massa de pobres”. Por desconhecimento, um quarto dos acessados se negou a fazer a vacina. Os recursos utilizados foram os espaços e insumos da Secretaria de Saúde e da Secretaria de Assistência Social, o espaço do restaurante popular e como recurso humano foram os profissionais da Assistência social, das OSCs Gesto e Vale a Vida, da Redução de Danos e da Equipe do Consultório na Rua.

Resultados

A experiência do trabalho em rede e em parceria com a Assistência Social e as OSCs que atuam junto a populações em situação de vulnerabilidade possibilitou que a Equipe Consultório na Rua chegasse à marca de 217 usuários imunizados com primeira dose, que correspondem a 54,25% dos 400 usuários acessados pela ECR em 2021 e 2022.

Conclusões

A população em situação de rua é um público de usuários itinerantes, que vivem à margem da sociedade devido sua situação de vulnerabilidade social associada a vínculos familiares fragilizados e à adicção (uma parcela expressiva desta população faz uso de álcool e múltiplas drogas). A maioria destes usuários só procura os serviços de saúde em situações de urgência e emergência, fato que justifica a importância de captarmos estes cidadãos que são uma parcela que muito necessita de promoção e prevenção em saúde. O trabalho em rede se mostrou efetivo e eficiente na promoção e prevenção em saúde e possibilitou que prestássemos um cuidado a quem mais precisa em tempos onde a teoria dos cuidados inversos explicita que atenção em saúde tende a variar inversamente à necessidade da população.

Palavras-chave

Trabalho em Rede, População em Situação de Rua