Apresentação/Introdução
O cidadão tem autonomia quanto a escolha sobre quantos filhos gerar, porém, esta autonomia depende de informações e de disponibilidade de métodos contraceptivos eficazes e que estejam de acordo com as necessidades e estilo de vida dos indivíduos. A adesão aos tradicionais métodos contraceptivos, é por vezes, prejudicada por depender do comprometimento da mulher em relação à adesão ao método, que quando de forma irregular, interfere diretamente na eficácia, resultando em gestações não planejadas. No período da pandemia, a realização das laqueaduras esteve suspensa, gerando uma demanda reprimida, assim como o fato de não ser realizada em nosso hospital de referência, fez com que, junto as demais questões citadas acima, fosse necessária a oferta de um método contraceptivo eficaz, de longa duração, de fácil administração, diferente dos métodos hormonais já ofertados, para assegurar o direito ao planejamento familiar à nossa população. Atento a esta necessidade, em setembro de 2020, o Município de Itajaí iniciou o processo de implantação do protocolo para inserção do método contraceptivo implante hormonal de etonogestrel subdérmico, com capacitação teórica e prática dos profissionais da rede municipal de saúde. Esta implantação visa garantir a oferta de uma contracepção eficaz e de longa duração, com acesso facilitado, para as mulheres usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS) do Município de Itajaí.
Objetivos
O presente trabalho objetivou relatar a experiência do processo de implantação do protocolo de oferta e inserção de implante hormonal subdérmico como estratégia de ampliação do programa de planejamento familiar do município de Itajaí/SC.
Metodologia
Trata-se de um relato de experiência da implantação de protocolo de oferta e inserção de implante contraceptivo hormonal no Município de Itajaí/SC, sob a Supervisão da Saúde da Mulher na Diretoria de Atenção à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde. Este método contraceptivo foi escolhido por ser de longa duração e, assim, impactar na redução do número de gestações não planejadas e de seus impactos biopsicossociais, ser uma alternativa à laqueadura e proporcionar uma alternativa às contraindicações aos demais métodos. O público-alvo do protocolo é composto por mulheres adolescentes, em vulnerabilidade social, em situação de rua, portadoras de distúrbios psiquiátricos, deficit cognitivo, contraindicação de gestação, multíparas, com histórico de negligência de pré-natal, soropositivas e/ou com condições de saúde específicas. Elaborou-se o protocolo baseado nos objetivos e no perfil populacional local, visando atender as necessidades observadas, com a participação de um grupo de especialistas da rede municipal de saúde. Para facilitar o acesso, optou-se por capacitar enfermeiros, médicos clínicos gerais e ginecologistas de todas as equipes de saúde do Município, de forma que realizou-se a capacitação em dois momentos, teórico e prático. O primeiro contemplou a apresentação online do protocolo para os profissionais e o segundo referiu-se às oficinas presenciais, nas quais os profissionais foram treinados quanto a inserção do implante, cuidados, fluxos e documentações.
Resultados
Conforme protocolo elaborado pelo município, o novo método foi divulgado amplamente pela mídia local, assim como nos serviços de saúde do Município. Assim, todas as mulheres que desejam usar o método e estejam dentro dos critérios, podem solicitar a inserção do mesmo em suas unidades de saúde de referência, assim como as equipes podem ofertá-lo a estas mulheres. Houve grande adesão pelas equipes de saúde, que se organizaram quanto ao processo de trabalho para garantir a oferta do método, conforme a realidade e perfil epidemiológico de seus territórios. Evidencia-se também a grande aceitação e procura pelo método pela população, justificando inclusive a solicitação de ampliação da oferta, pois em quatro meses foram inseridos 1200 implantes. As maiores beneficiadas na primeira fase foram as multíparas, mulheres em situação de rua, obesas, com transtornos psiquiátricos, em vulnerabilidade social e usuárias de drogas. Considerando apenas os gastos estimados pelo DATASUS sobre valores de um pré-natal e sem levar em consideração os impactos socioeconômicos de uma gestação não planejada, podemos estimar uma economia ao Município de cinco milhões de reais, justificando o investimento no método. Com a implantação do método, houve impacto também na redução da fila de espera do procedimento de laqueadura em mais de 100 mulheres.
Conclusões
Com base no exposto, considerando os impactos sociais e econômicos, pode-se evidenciar a relevância da implantação deste protocolo, com a oferta do contraceptivo hormonal subdérmico e ampliação do programa de planejamento familiar na rede de saúde de Itajaí/SC. Considerando que é responsabilidade do Estado prover recursos para o exercício do direito do cidadão ao planejamento familiar, esta estratégia visa garantir a ampliação do acesso, em consonância ao preconizado pelo Ministério da Saúde, bem como configura-se como uma alternativa para garantia da integralidade do cuidado às mulheres e aos direitos reprodutivos. A implantação deste método fortaleceu o planejamento familiar de Itajaí com reforço das ações de educação em saúde e ampliação da oferta de métodos contraceptivos. Ressalta-se que as evidências apontadas referem-se ao período de quatro meses de utilização do método, de forma que poderemos observar e relatar mais resultados a longo prazo, considerando o tempo gestacional e também o tempo de cobertura contraceptiva do método.
Palavras-chave
Planejamento Familiar, Direitos Reprodutivos.