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Santana de Parnaíba - SP

GRUPO DE PSICOTERAPIA COM ENLUTADOS: MOVIMENTANDO-SE ATRAVÉS DA DOR.

Autor(a): KARINA MONTEIRO DE FREITAS

Ano: 2022

Apresentação/Introdução

Segundo o Ministério da Saúde (2022), desde março de 2020, com o início da pandemia de COVID-19, percebeu-se em nível mundial o aumento significativo de mortes. Além de perdas em geral, que podem implicar a mudança de uma rotina, desemprego, divórcio e rompimentos diversos, visto que é um cenário de desastre (Franco, 2022). Observou-se, na Unidade Básica de Saúde em questão, a grande procura por psicoterapia para elaborar estas perdas, principalmente por pessoas que vivenciaram a morte de uma pessoa próxima. Muitas delas foram atravessadas pela dor de lutos seriados. Optou-se, então, para que esta demanda obtivesse o tratamento em curto prazo, realizar-se grupos de psicoterapia para enlutados. Segundo Bianchi & Camps (2020), “enlutado é o nome dado à pessoa que teve a perda de uma figura de apego significativa e está vivendo o processo de luto.” O amor e a perda fazem parte da condição humana. Este rompimento repentino pode gerar sintomas de gravidade e características variadas (Bianchi, 2020), sendo a psicoterapia em grupo um possível canal de construção de significados, alívio e fortalecimento para atravessar o processo do luto, que é uma reação à perda (Franco, 2022). Além de acompanhamento a possíveis agravamentos dos sintomas característicos do processo do luto. Como nos lembra Gouvea (2016), “só há luto onde houve laço, só há perda onde houve vínculo”. A Gestalt-terapia, abordagem utilizada nas sessões, considera a indissociabilidade do campo indivíduo/meio e ent

Objetivos

Geral Realizar uma sessão de psicoterapia em grupo semanal para pacientes enlutados por pessoas falecidas por COVID-19 ou não a fim de ofertar espaço para acolhimento, reflexão e ressignificação da morte. Específicos ●Realizar uma sessão semanal de psicoterapia em grupo formado por adultos na faixa etária a partir de 18 anos; ●Admitir no máximo 8 adultos que enfrentaram falecimento de familiares; ●Realizar 12 sessões no total, podendo estender-se de acordo com a necessidade identificada pelo profissional; ●Oferecer um espaço de troca e acolhimento entre os participantes a fim de acompanhá-los no atravessamento do processo de luto.

Metodologia

Foram realizadas sessões de psicoterapia em grupo com a duração de 1h30, uma vez na semana, desde setembro de 2021 até o presente momento. As sessões foram realizadas por uma psicóloga na Unidade Básica de Saúde Limério Cardoso Borchat, no bairro 120, no município de Santana de Parnaíba, no estado de São Paulo. A abordagem orientadora foi a Gestalt-terapia, utilizando-se, também, da teoria do apego de John Bowlby. Até o presente momento foram acolhidas no grupo 10 pessoas. Todas elas identificam-se com o sexo feminino. Devido a possível complexidade do processo de enlutados por suicídio, optou-se por esta população ser atendida de forma individual. O grupo é aberto, sendo possível o ingresso de novas pessoas no decorrer das sessões. Os profissionais de saúde da UBS podem encaminhar as pessoas enlutadas para o grupo em qualquer momento, não sendo necessário criar uma fila de espera para esta população.

Resultados

Desde o início da psicoterapia as pessoas, de acordo com seus relatos pessoais, sentem-se mais fortalecidas para continuar a vida apesar da perda. Houve ressignificação, estreitamento dos laços afetivos com os familiares, aumento do sentimento de esperança e maior autopercepção. Além de criação em conjunto de formas de honrar os que partiram, com rituais de despedida. Observa-se a capacidade de atuar com empatia a novos integrantes, demonstrando o que foi trabalhado nas sessões anteriores. Nota-se a redução da fila de espera para psicoterapia desta população e a diminuição de encaminhamentos para consulta psiquiátrica, visto que foi realizada uma sensibilização com os médicos da UBS, em reuniões de matriciamento, para o encaminhamento prioritário para o grupo e, caso houvesse necessidade, a psicóloga faria o direcionamento para este tipo de atendimento.

Conclusões

“Todo pequeno esforço para sobreviver, mesmo quando a dor é profunda e intensa, constitui uma forma de honrar a vida de quem vai e de quem fica.” (Luz, 2021). Observando toda a gama de sentimentos envolvidos desde o início da pandemia de COVID-19, notou-se a urgência em acolher as pessoas que perderam alguém por falecimento. O objetivo central da psicoterapia em grupo para enlutados no SUS é oferecer à população um espaço de troca, acolhimento, ressignificação e nova compreensão de si e do mundo. O luto não tem um encerramento. Ele é um processo de cicatrização de uma ferida que só existe por que há a permissão para o amor. Nestas sessões é oferecido espaço para dar voz à dor e espaço à transformação da realidade. Por meio das sessões observou-se aumento do sentimento de pertencimento, fortalecimento para continuar a vida, ressignificação da perda e maior autopercepção. Além de redução do tempo de espera para iniciar psicoterapia e diminuição de encaminhamentos para consulta psiquiátrica.

Palavras-chave

Psicoterapia em grupo, luto, enlutados.