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Santa Cruz do Rio Pardo - SP

Reportagem especial: mudanças no fluxo de trabalho permitiu rapidez e qualidade na assistência à saúde em Santa Cruz do Rio Pardo-SP


19/01/2024 14h18

A saúde tem pressa, mas não basta ter apenas celeridade no atendimento. É preciso encontrar o serviço de forma rápida e assertiva. A partir dessa ideia, e com base nas demandas trazidas pelos usuários do município de Santa Cruz do Rio Pardo, em São Paulo, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da cidade implantou o projeto “Saúde na Hora”. A iniciativa permitiu organizar os atendimentos conforme os níveis de assistência e classificação de risco dos pacientes, combatendo a lotação dos pronto-socorros. 

“Após o período mais crítico da pandemia [de Covid-19], verifiquei grande demanda reprimida, especialmente de consultas e exames, pois os atendimentos da Atenção Primária haviam sido substituídos por atendimentos de problemas respiratórios. O fluxo de pacientes estava completamente desorganizado”, descreve a enfermeira Anelise Link Leitão. À frente da SMS entre janeiro de 2021 e julho de 2023, ela relembra os principais desafios. Anelise sabia que implantar o projeto naquele momento, com as equipes de saúde já cansadas, podia gerar conflitos, mas estava certa da necessidade de resolver aquelas demandas.

Diante desse cenário, foram implementadas as primeiras ações: a criação da chamada Jornada de Saúde, em parceria com a Escola de Medicina Santo Amaro, que contou com 120 profissionais  voltados para atendimento de diferentes especialidades aos sábados e domingos. Mas a colaboração externa não era suficiente, sendo necessário mobilizar os profissionais de saúde que já atuavam no município. 

Já em dezembro de 2021 foram cadastradas as primeiras duas unidades de saúde no programa. Pouco tempo depois, mais duas foram acrescentadas. Em março de 2022, as quatro Unidades Básicas de Saúde de maior abrangência populacional ampliaram seu funcionamento e chegaram às 12 horas diárias, das 7h às 19h. A alteração no funcionamento também possibilitou a expansão de alguns serviços, como no caso dos grupos assistenciais voltados para pais, mulheres e de combate ao tabagismo.  

Com o Saúde na Hora, cada Unidade Básica de Saúde (UBS) passou a contar com banners que descrevem os serviços ofertados e informam as opções de horário. O maior aporte de recursos federais possibilitou, ainda, a aquisição de novos equipamentos, de um computador servidor para hospedagem do Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), e a implantação de tablets para registro de visitas domiciliares dos agentes comunitários de saúde (ACS). 

“Com o horário estendido, melhoramos esse fluxo de atendimento através dos canais de comunicação, que foram de extrema importância para educar a população sobre onde cada pessoa deveria ir, de acordo com cada tipo de necessidade. Foi um trabalho de parceria. Também abrimos agendamento de consultas pelo Whatsapp para facilitar essa comunicação”, lista Anelise. 

Acompanhamento personalizado

O processo teve a tecnologia como aliada, sobretudo com a implantação do sistema de agendamento de consultas E-SUS. Desde então, faz parte do procedimento pós-atendimento da equipe de saúde o contato telefônico com o paciente para atualizações sobre o estado de saúde e para sanar dúvidas. Tal acompanhamento humanizado se estende aos ACS, que aumentaram em 10 mil os cadastros de cidadãos junto à rede de saúde municipal

De acordo com a enfermeira Isabela Gobbo, responsável técnica por uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município, o programa alcançou resultados inéditos. “Conseguimos aumentar a adesão da população em números expressivos, diminuímos os atendimentos azuis (de baixa complexidade) da porta da UPA, como nunca havia acontecido antes”, afirma ela. De acordo com a profissional que se comunica diretamente com os pacientes por meio do Whatsapp do “Saúde na Hora”, a melhoria no acompanhamento dos usuários também é notória. “Os feedbacks são variáveis, mas após uma simples ligação, com a solução dos problemas, os pacientes ficam muito agradecidos. Mais do que isso: se sentem acolhidos”, diz ela. 

Mesmo com mudanças no projeto, os legados permanecem ainda hoje. “Conseguimos mudar a cultura dos pacientes de procurar a UPA para tudo. Com a ajuda da Prefeitura e de seus canais de comunicação, a população tem procurado atendimento certo dentro da sua complexidade”, destaca Isabela. As buscas ativas, os contatos telefônicos e as orientações personalizadas continuam, assim como o agendamento de consultas de pacientes crônicos. Como profissional de saúde, a enfermeira se orgulha. “O SUS rico como é, nos dá várias oportunidades e caminhos para que, como profissionais de saúde, façamos o nosso melhor e  nos aperfeiçoamos cada dia mais, pois essa é função de todos nós gestores da saúde”, defende.