A imunização em massa contra a Covid-19, quando as vacinas começaram a chegar ao Brasil, foi um desafio em duas frentes: de um lado, era necessário promover o acesso amplo em todas as regiões do país, inclusive as mais remotas; de outro, era fundamental desconstruir campanhas de desinformação em torno dos efeitos adversos da vacina. Este último impasse foi enfrentado por Jaboatão dos Guararapes quando o público alvo passou a ser jovens a partir de 12 anos, através de um projeto que aproveitou a experiência do Programa Saúde na Escola (PSE) para aliar as ações de saúde e educação.

Jaboatão dos Guararapes é o segundo maior município de Pernambuco em termos populacionais, com cerca de 644 mil habitantes, e foi o segundo a registrar casos e mortes por Covid-19. Para facilitar o acesso aos imunizantes, o município mantinha pontos de vacinação volantes nas regionais de saúde da cidade. A resistência da população jovem em buscar as unidades de saúde para acessar a vacina motivou a instalação de pontos de vacinação nas escolas, aliando o trabalho dos profissionais de saúde aos profissionais da educação, como também o envolvimento da comunidade na proteção dos estudantes contra o vírus.

O projeto começou em setembro de 2021, um mês antes do retorno às aulas presenciais, com a vacinação de professores e funcionários das escolas. Com a chegada dos alunos, iniciou-se então um mutirão, que durou 18 dias, onde 99 escolas da rede pública e privada, vinculadas às unidades de saúde, receberam as equipes de vacinação. Foram mais de 1900 doses aplicadas. 

"A gente aproveitou a estratégia do PSE, através dos laços já estabelecidos com a escola, para levar mais segurança para a população. Unimos educação, saúde e assistência social para ampliar a cobertura e oferecer mais informações", explica Ellen Kristina Nunes Leal, gerente de Políticas Estratégicas e Programas.

Além de ampliar o alcance das ações para fora do perímetro das unidades de saúde, a experiência também ultrapassou os muros das escolas ao envolver a participação de lideranças locais e conselheiros tutelares, promovendo uma conscientização integrada sobre os direitos das crianças e dos adolescentes. As vacinas aplicadas nas escolas, inclusive, estavam disponíveis para toda a comunidade. Para identificar os núcleos familiares onde havia resistência à vacinação, as escolas da rede municipal faziam um levantamento dos casos e articulavam com os conselheiros e lideranças uma rede de apoio e esclarecimento.

"O PSE não desenvolvia um trabalho de imunização. A ideia de acrescentar ao Programa a proposta de vacinar nas escolas, desenvolvendo uma discussão ampla no território, foi justamente para garantir um ambiente seguro, onde os filhos pudessem se vacinar. O diferencial do projeto foi estabelecer um sentimento de pertencimento, onde a escola servia de ponto de vacinação para a comunidade escolar e para a comunidade do seu entorno, com a participação dos conselheiros tutelares", avalia a secretária municipal de saúde de Jaboatão dos Guararapes, Zelma de Fátima Chaves Pessoa. 

Ampliação

O enfrentamento à Covid-19, apesar dos desafios, trouxe muitos aprendizados como a necessidade de fortalecer um trabalho integrado, sem o qual a crise sanitária jamais seria superada. "Estávamos com medo na pandemia, mas as equipes se colocaram à disposição para desenvolver algo inovador e isso nos dá muito orgulho. Um legado positivo da Covid-19 foi perceber que, em momentos de crise, a saúde não se faz encarcerada nela mesma e a intersetorialidade nos ajuda a perceber que podemos fazer saúde em espaços alternativos", reflete a secretária.

Os resultados da experiência foram tão positivos que, em 2022, o projeto não só permaneceu como ampliou seu alcance para promover campanhas de multivacinação no ambiente escolar. Mais de 150 escolas já foram contempladas e mais de 15 mil doses de diversas vacinas foram aplicadas. "O nosso objetivo maior é criar as condições para que as crianças e os adolescentes fiquem protegidos. Temos um horário fixo para permanecer na escola, mas muitos profissionais ultrapassam esse limite para garantir maior número de vacinados. Ter o reconhecimento desse esforço nos engrandece", avalia Ellen. 

Atualmente, o município divulga um calendário mensal de visita às escolas da rede pública, onde são disponibilizadas várias vacinas. Cabe aos profissionais da escola distribuir entre as famílias um termo de consentimento, evitando que os pais tenham que acompanhar a vacinação dos adolescentes, e organizar a documentação do cadastro dos alunos, como também regular as filas de vacinação. Os pais que têm dificuldade de fazer o cadastramento online são orientados pelas equipes de educação. 

Em Jaboatão dos Guararapes, a relação com a educação faz parte do trabalho cotidiano da Secretaria Municipal de Saúde, que tem buscado ampliar a conscientização em diferentes áreas. Pela educação, os próprios alunos também vão se tornando agentes de saúde. No projeto de imunização, a prioridade das visitas das equipes é dada para as escolas da rede pública que não receberam a ação nos últimos dois ou três meses, mas as escolas da rede privada também são contempladas quando solicitam a presença das equipes de saúde.

"A experiência nos traz um ensinamento: todo artista tem que ir aonde o povo está. O paradigma de que a saúde só é feita em ambiente da saúde foi quebrado. Outras vacinas como HPV e Hepatite B movimentam novas pautas no ambiente escolar, desmistificando crenças que caem por terra quando a gente se aproxima e leva mais informação", conclui a secretária de saúde.

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