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São José dos Campos - SP

Reportagem especial: segurança alimentar e desenvolvimento sustentável na construção de uma cidade saudável em São José dos Campos-SP


08/05/2024 11h35

Dentre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - um apelo global das Nações Unidas para acabar com a pobreza, proteger o meio ambiente e o clima e garantir paz e prosperidade - está a erradicação da fome através da segurança alimentar, melhor nutrição e agricultura sustentável. No Brasil, a Agenda 2030 traz o compromisso de garantir sistemas de produção de alimentos integrados ao meio ambiente e implementar práticas agrícolas que ajudem a manter os ecossistemas. 

Nesse sentido, desde 2006, o município paulista de São José dos Campos vem desenvolvendo um projeto de estímulo ao cultivo orgânico de alimentos em pequenos espaços, resgatando o consumo de plantas alimentícias não convencionais e frutas nativas dos biomas da Mata Atlântica e do Cerrado. O objetivo é incidir sobre a promoção da saúde por meio da segurança alimentar e nutricional. O projeto, desenvolvido por meio de parceria entre a Secretaria de Saúde e a Secretaria de Urbanismo e Sustentabilidade, busca contribuir também para frear o crescimento da obesidade e as doenças crônicas relacionadas ao aumento de peso, que podem ser prevenidas e tratadas com a mudança alimentar e o consumo de nutrientes naturais.

"Trabalhamos a promoção da alimentação saudável com uma visão de saúde única, que envolve a saúde da população, do planeta e dos trabalhadores agrícolas. Queremos garantir o acesso a alimentos naturais, cultivando hábitos de vida saudáveis e ao mesmo tempo mantendo o olhar sobre a sustentabilidade", afirma a idealizadora da iniciativa, Elizabeth Maria Bismarck, coordenadora do Núcleo de Nutrição da Secretaria de Saúde. Há 18 anos atuando no projeto, ela conta que o primeiro passo foi a realização de oficinas para ensinar os profissionais de saúde e a comunidade a cultivar alimentos em casa em pequenos vasos, com a distribuição de sementes e mudas.

A iniciativa foi sendo consolidada e ampliada para a produção de hortas comunitárias nos quintais das Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município, com a participação do conselho gestor, dos trabalhadores e da comunidade. O resultado da produção dos alimentos orgânicos ajudou a desenvolver um sentimento de pertencimento e de partilha, onde uma quantidade da produção orgânica fica com quem planta e outra vai para os mais vulneráveis e para grupos específicos, como os que envolvem gestantes, hipertensos e diabéticos.

Ainda sob o espectro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, é possível encontrar dentre os compromissos assumidos pelo governo brasileiro, até 2030, a implementação de práticas agrícolas resilientes, que aumentem a produção, mantendo os ecossistemas.

Um passo adiante no projeto realizado em São José dos Campos e veio a realização, a partir de 2018, de ciclos de conversas sobre Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCS), um movimento que dá relevo ao propósito de aliar sustentabilidade e segurança alimentar. O objetivo é orientar a população sobre o consumo e cultivo dessas plantas, que no passado faziam parte da cultura e alimentação local. Pouca gente conhece, mas a maioria das PANCS cresce espontaneamente e adapta-se facilmente a diferentes ambientes, sem grandes esforços para cultivá-las. 

"As PANCS são muito nutritivas, estão nos quintais das pessoas e muitas delas não conhecem. A cada encontro falamos de uma plantinha e oferecemos mudas, como uma forma de trabalhar a diversidade nutricional. Na época da pandemia, por exemplo, eu ia menos ao mercado e comia as coisas que estavam no meu quintal. Para os mais vulneráveis esse cultivo é muito importante e interessa aos que têm consciência sobre a alimentação, além de exigir menos cuidado na sua manutenção", afirma a nutricionista.

Um novo tempo

Um projeto que pensa em sustentabilidade prevê que os frutos serão colhidos também no futuro. Com essa concepção surgiu mais uma vertente do trabalho, através do programa de pomares nativos e educativos. A ideia foi mobilizar a sociedade, envolvendo inclusive as escolas, com mutirões de plantio de árvores frutíferas típicas da região do Vale do Paraíba. São plantas como Araçá, Cambuci, Cambucá, Pitanga, Jaracatiá, que estão se tornando desconhecidas da população, mas que, quando começarem a frutificar, estarão disponíveis para serem colhidas.

Os pomares nativos reforçam, mais uma vez, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ao criarem corredores verdes em toda cidade, fortalecendo a arborização e contribuindo com a limpeza atmosférica.

A meteorologista Marina Tanaka participava de uma feira de ciências em São José dos Campos quando observou em um estande a exposição de plantas comestíveis. No local havia uma roda de conversa sobre as PANCS, que despertou seu interesse. O tema não era novo, pois já havia assistido a palestra de um pesquisador da Embrapa, em Brasília. Mas a abordagem era inovadora, porque além das explicações sobre as características das plantas, de onde vêm, os benefícios nutricionais, a coordenadora do Núcleo de Nutrição do município ensinava receitas e fazia degustação dos alimentos que ela mesma preparava.

"Eu fui pela primeira vez à roda de conversa e não parei mais de ir. É muito bem organizada e interessante porque a Elisabeth explica tudo, como o modo de plantio, qual o preparo e coloca todo mundo para trabalhar. A equipe apresenta a horta e distribui mudas. A questão é como adquirir esses alimentos", resume Marina. Ela conta que não tem espaço em casa para o cultivo, mas há os pomares e as hortas da Prefeitura. Por uma questão de proximidade, ela paga para ter acesso a uma horta orgânica e diz que o alimento mais consumido no seu cardápio é a Ora Pro Nóbis, uma planta classificada como milagrosa. "São José mudou com o desenvolvimento de atividades integrativas, o que é muito bom", elogia.

"Estimular concretamente o envolvimento das pessoas no processo o torna mais durável. Faz mais sentido do que apenas orientar, sem possibilitar que esse ciclo se feche. Quando trabalhamos o tripé educação, produção e acesso, estamos falando sobre a importância, ajudando a conquistar e garantindo o acesso. No SUS tem que ter a participação da comunidade para produzir o empoderamento em torno da autoproteção", conclui a autora.

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