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Nova Europa - SP

Reportagem especial: Integração entre equipes multiprofissionais zera fila de espera em neuropediatria em Nova Europa-SP


19/07/2024 12h08

Um problema pode ser sempre menor quando as soluções se dão no contexto coletivo. É o que demonstra a experiência desenvolvida no município paulista de Nova Europa para enfrentar a dificuldade de acesso de crianças a tratamentos em neuropediatria. Como o município é de pequeno porte, com pouco mais de 11 mil habitantes, dependia da rede regional para responder à demanda cada vez mais frequente voltada ao diagnóstico e tratamento de transtornos como Autismo e TDAH. 

Com a baixa oferta de vagas na rede regional de saúde, que se resumia a uma por mês ou nenhuma, as famílias tinham que esperar cerca de seis meses para o atendimento dos filhos nos casos prioritários e um ano nos casos eletivos. "Como tínhamos muitas hipóteses de autismo e as mães batendo na nossa porta, resolvemos abraçar o problema como responsabilidade municipal. Tivemos que construir essa rede de cuidado do zero", conta a fisioterapeuta e coordenadora da Atenção Básica, Nathalia Denardi Casotti.

A partir da reclassificação da fila de espera e da contratação de uma neuropediatra que faz atendimento uma vez por mês no município, o projeto avançou no que pode ser considerado seu maior diferencial: criar um espaço dialógico entre as equipes multiprofissionais para a discussão dos casos, possibilitando o cuidado integral das crianças. O trabalho em conjunto entre a equipe multiprofissional ambulatorial e a equipe multiprofissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) possibilitou que as crianças fossem acompanhadas pela neuropediatra e por profissionais da Atenção Básica e do Centro de Saúde.

O atendimento no Centro de Saúde não é exclusivo para as crianças neurodiversas, mas com a chegada da neurologista infantil foi criada uma agenda de reuniões mensais com profissionais do ambulatório e do NASF. A equipe multiprofissional, que já vinha acompanhando as crianças, passou a registrar as estratégias de cuidado em relatório para facilitar o diagnóstico da médica neurologista.

Em contrapartida, as equipes recebiam o retorno dos atendimentos com a neurologista infantil nas reuniões, fechando o ciclo de cuidado. As reuniões mensais para análise dos casos de neuropediatria foram tão importantes que, atualmente, a agenda dos encontros foi estendida, inserindo pautas que envolvem outras doenças, o que possibilita um processo de educação permanente.

Parceria com a educação

Ampliando o espaço de interlocução, o projeto também possibilitou a troca entre profissionais das áreas de saúde e educação. Muitas das demandas por atendimento das crianças vieram das escolas, a partir da identificação das necessidades pelos professores, além das famílias. No trabalho conjunto, as crianças neurodiversas são acompanhadas nas escolas por psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos e professores de educação especial.

Mudanças

Em 2024, o projeto se modificou com a inauguração, no município de Itápolis, do Centro Especializado de Reabilitação (CER III). Como Nova Europa faz parte da microrregião, os novos casos são encaminhados para o CER III, onde há avaliação multiprofissional e as crianças permanecem em acompanhamento por um período. Ao serem inseridas em todos os cuidados necessários, e com garantia de transporte, elas só retornam ao atendimento no seu município com um plano terapêutico singular estabelecido, que passa a ser desenvolvido pela equipe multiprofissional local. Como a demanda reprimida foi sanada com a eliminação da fila de espera, a neuropediatra não atende mais em Nova Europa.

"As crianças não têm tempo para esperar, elas precisam ser diagnosticadas já. A experiência é muito gratificante porque zeramos a fila. No início, achamos que não teríamos perna para fazer o projeto, mas conseguimos com o comprometimento da gestão", avalia Nathalia. 

Gustavo é uma criança autista de 11 anos. O seu acompanhamento tem gerado avanços reconhecidos pela mãe, Raquel. Ele começou o tratamento com a terapeuta ocupacional e agora está sendo acompanhado pela fonoaudióloga e o psicólogo. "As terapias realizadas em Nova Europa são maravilhosas e têm ajudado Gustavo a se desenvolver muito bem", afirma Raquel.

A iniciativa permitiu que o tempo de espera para consulta prioritária em neuropediatria caísse para um mês e, nos casos eletivos, para seis meses. "Acredito que o projeto, premiado na Mostra Brasil aqui tem SUS, foi de suma importância para a troca de conhecimento e para amadurecer a ideia de desenvolver no município a conscientização do trabalho precoce com as crianças autistas, iniciando pela avaliação neurológica", enfatiza a secretária municipal de saúde, Daniela de Jesus Ferreira.

Experiência premiada na 18ª Mostra Brasil, aqui tem SUS.