Sacramento - MG
Reportagem especial: Sacramento (MG) atualiza calendário vacinal e sai da zona de risco para doenças imunopreveníveis
16/08/2024 12h14
O município mineiro de Sacramento, cuja população gira em torno de 26.670 habitantes, passou a enfrentar um cenário de redução das coberturas vacinais do calendário de imunização, que perdurou por cerca de quatro anos. As perdas consecutivas nos indicadores de vacinação, observadas a partir de 2017, levou o município a ser classificado pelo Estado como de alto risco para o desenvolvimento de doenças imunopreveníveis. Nesse cenário, a Secretaria Municipal de Saúde criou o projeto Vacina em Ação.
A iniciativa foi dividida em diversas frentes, para suprir questões identificadas como vulneráveis a partir de um mapeamento feito no território. O objetivo era conhecer as reais necessidades da população. Uma das estratégias foi promover a imunização casa a casa, considerando que o município tem uma vasta extensão rural, maior que a urbana, e algumas localidades estão situadas a 90 km de distância da sede. Para dar acesso às ações de imunização e outros serviços, as equipes de saúde têm que se deslocar aos territórios.
Outro desafio que uniu Atenção Básica, Vigilância Epidemiológica e Gestão em torno do projeto era a dificuldade de manter o ciclo de vacinação entre a primeira e a última dose, garantindo esquemas vacinais completos, o que deixava sobretudo as crianças vulneráveis. "Nosso objetivo foi garantir altas e homogêneas coberturas vacinais e modificar a classificação do município de alto risco para baixo risco, além de fortalecer a confiança da população sobre as vacinas", resume a enfermeira, coordenadora do setor de imunização e referência em epidemiologia, Suzy Marry Delgado.
Tendo como foco facilitar o acesso, o horário de atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBSs) foi estendido e uma parceria com a Secretaria Municipal de Educação garantiu a presença de vacinadores nas escolas, verificando as cadernetas de vacina e imunizando os alunos com esquema vacinal incompleto ou inexistente. A cooperação entre saúde e educação se intensificou, de modo que os pais precisavam apresentar um atestado de completude vacinal emitido pelas unidades de saúde para a realização da matrícula escolar.
O projeto foi desenvolvido em 2022, período em que a pandemia de Covid-19 perdia o poder de letalidade - graças às vacinas -, mas servia de palco para alimentar uma rede de desinformação em torno da eficácia e segurança dos imunizantes. Para evitar situações em que o acesso era garantido e ainda assim não havia adesão de segmentos da sociedade, o foco passou a ser a comunicação nas redes sociais, através de um trabalho permanente e concomitante às outras ações, com o objetivo de trazer de volta a confiança da população.
Em outra frente, voltada à necessidade de embasar pareceres científicos e epidemiológicos, o projeto investiu na confiabilidade dos sistemas de informação. Por isso, foi realizado um trabalho de educação permanente com profissionais de saúde e digitadores, cujo objetivo era alimentar corretamente os dados nos sistemas digitais. A ação também se mostrou relevante para possibilitar uma avaliação correta do município quanto aos riscos de desenvolvimento de doenças imunopreveníveis.
Na zona rural, o projeto Vacina em Ação ganhou prioridade em torno da imunização contra a febre amarela porque a doença foi detectada em um primata não humano. Mas a exemplo da zona urbana, todos os imunobiológicos para adultos e crianças menores de dois anos foram disponibilizados, como BCG, Hepatite A e B, Rotavírus, Meningite C, Pentavalente, Poliomielite, Tríplice Viral, Varicela, dentre outros.
A vacinação em área rural é sempre mais delicada porque envolve longos deslocamentos, a necessidade de infraestrutura para manter os sistemas de refrigeração das vacinas e a dificuldade de conectar informações. Um dado exemplifica essa realidade: como o acesso à internet é mais limitado na zona rural, os vacinadores foram orientados a retornar para a sede do município sem imunizar as famílias que não mantinham os cartões de vacinação. O objetivo era retornar só depois que a situação do usuário fosse verificada, evitando assim a duplicidade de doses.
Seu José Vicente Neto e dona Luisiana Aparecida Silva Araújo moram em um sítio no bairro rural de Sete Voltas, um povoado com cerca de 150 famílias localizado a mais de 70 km da sede de Sacramento. Eles lembram que para vacinar as filhas, quando eram crianças, tinham que se deslocar à sede do município. "Antigamente a gente só recebia a vacina da febre amarela, mas depois fizeram o postinho de saúde, que tem até dentista", recorda dona Luisiana.
"Aqui no postinho, toda semana a equipe vem e traz as vacinas de acordo com as campanhas. Eles conferem a caderneta da pessoa e vão atualizando, porque tem que ficar todo mundo imunizado. A gente vê uns bebês bem pequenos que saem com umas quatro ou cinco agulhadas", complementa seu José Vicente. Agricultor aposentado, seu José se orgulha de ter tomado cinco doses contra a Covid-19, o que o permitiu enfrentar a doença com sintomas leves. "É melhor a vacina do que a doença", enfatiza.
Como resultado, o projeto possibilitou que a cobertura vacinal geral chegasse a 96,5% e em casos como a vacinação da Poliomielite e da Tríplice Viral, a cobertura chegou a 100%. O município foi reclassificado pelo Estado e entrou na categoria de muito baixo risco para reintrodução de doenças imunopreveníveis, considerando treze imunobiológicos avaliados com mais de 95% de homogeneidade.
"Como residente do município, é muito bom saber que a população está protegida. Minha família vive na zona rural e foi beneficiada com as ações. Não temos como mensurar o valor desse projeto e a gratidão à equipe de profissionais que foi para a zona rural, levou água e comida, enfrentou dificuldades até de acessar o banheiro, percorrendo estradas sem asfalto. A nossa equipe se empenhou e a gente deve muito a ela", reconhece a coordenadora.
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