Virgem da Lapa - MG
Reportagem especial: projeto impulsiona atividade física e educação nutricional de crianças contra obesidade infantil em Virgem da Lapa (MG)
05/09/2024 12h17
Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2017 identificou 124 milhões de crianças e adolescentes obesos no mundo. No Brasil, o número representava 9,4% das meninas e 12,4% dos meninos, de acordo com os critérios adotados pela OMS para classificar a obesidade infantil. Em 2022, o Sistema Nacional de Vigilância Alimentar e Nutricional do Ministério da Saúde produziu um relatório onde 340 mil crianças brasileiras de 5 a 10 anos, acompanhadas na Atenção Primária à Saúde (APS), foram diagnosticadas com obesidade.
Os números refletem um cenário que exige muita atenção, considerando que a obesidade é a porta de entrada para uma série de doenças crônicas na infância. Pelos dados da Vigilância, a região sudeste é a segunda do país com maior percentual de obesidade infantil - 10,41% - justamente onde se localiza o pequeno município mineiro de Virgem da Lapa, cuja população gira em torno de 11.800 habitantes, segundo o último censo do IBGE.
Dentre as iniciativas do Ministério da Saúde para lidar com o problema, foi desenvolvido em 2021 o Proteja (Estratégia de Prevenção e Atenção à Obesidade Infantil). Abraçando a proposta, a Secretaria de Saúde de Virgem da Lapa resolveu criar as condições para instaurar o projeto no município, realizando um trabalho intersetorial com o objetivo de deter o avanço da obesidade infantil e contribuir para a melhoria da saúde nutricional das crianças.
A Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) reconhece a obesidade como uma doença resultante de aspectos multifatoriais e que, portanto, exige intervenções de diversos setores. Na direção de estratégias mais amplas que ultrapassem o espectro da saúde, Virgem da Lapa vem desenvolvendo uma série de iniciativas, através do Grupo de Trabalho Intersetoral (GTI).
O GTI tem atuado em parceria para traçar ações de melhoria do quadro de obesidade infantil, onde cada um assume metas e objetivos a serem alcançados. "A assistência social contribui oferecendo aulas de balé e capoeira para crianças de baixa renda com sobrepeso e obesidade. Nas escolas foram implantadas hortas, ações de educação alimentar e antropometria semestral e a Emater realiza junto aos agricultores o plantio assistido de verduras e folhosos", detalha a nutricionista do município, Cindy Emanuely Pereira Miranda.
O Grupo de Trabalho Intersetorial é formado por:
- Secretaria de Saúde;
- Secretaria de Educação;
- Secretaria de Esporte;
- Assistência Social;
- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER);
Público Prioritário do projeto;
- Crianças menores de 10 anos e gestantes;
O projeto avança ao incentivar o cultivo de hortas comunitárias nas escolas, através do apoio técnico da Emater, e ao distribuir entre as famílias carentes, no período de sazonalidade, alimentos que sobram dos plantios, incentivando a redução do consumo de produtos industrializados. Uma das iniciativas é a orientação aos agricultores familiares que fornecem merenda escolar, para que a comida chegue no prato dos estudantes das escolas públicas livre de agrotóxicos.
Em 2021, antes da implantação do projeto, apenas 44% das crianças de até 10 anos eram monitoradas, o que correspondia a 640 crianças. Com as ações efetivadas em 2022, o número de crianças em acompanhamento subiu para 1.153, representando 78% de cobertura nessa faixa etária.
O projeto apresentou bons resultados, que podem ser reflexo da adesão da população à oferta diversificada das atividades físicas - balé, capoeira, funcional kids, hidroginástica, handball, futsal - e à reeducação alimentar, com o suprimento de verduras e hortaliças. Indicadores positivos levaram ao aumento da demanda, o que intensificou as ações de cuidado desenvolvidas pela nutricionista, a psicóloga e o educador físico da Estratégia Saúde da Família (ESF).
A equipe multiprofissional passou a realizar intervenções preventivas, como o uso de Práticas Integrativas e Complementares (PICS) para evitar o desenvolvimento de doenças crônicas decorrentes do sobrepeso. O trabalho ganhou maior alcance com o monitoramento do estado nutricional nas escolas para identificação precoce de desvios e tratamento mais rápido.
Dona Dalva é mãe de Ozório, uma das crianças contempladas pelo programa. Ela diz que as sessões de auriculoterapia trouxeram mudanças significativas no comportamento da criança, diminuindo a necessidade de comer frequentemente. "Na pesagem do posto, ele teve diferença de peso e está dormindo até mais cedo", complementa, agradecendo pelo carinho e atenção com o filho.
"Eu avalio o projeto como muito positivo porque foi executado em parceria com outros setores. É importante oferecer para as crianças o que elas não têm acesso, que seria difícil para a realidade social de muitas delas. Além dos efeitos sobre o estado nutricional, o projeto representa uma estratégia de inclusão", conclui Cindy.
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