Jucurutu - RN
Jucurutu amplia cobertura de exame ginecológico e fortalece prevenção ao câncer
05/12/2025 14h50
Por Giovana de Paula

A pandemia provocada pelo coronavírus trouxe, entre os seus impactos, o comprometimento de políticas preventivas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a exemplo de exames de diagnóstico precoce de câncer. No pequeno município de Jucurutu, no Rio Grande do Norte, esse desafio foi enfrentado em relação ao exame citopatológico que detecta precocemente o câncer de colo do útero. Importante dizer que essa é a terceira neoplasia mais incidente em mulheres no Brasil.
Um monitoramento realizado em 2022 confirmou o que já se suspeitava - a cobertura do exame citopatológico estava baixa em mulheres classificadas como população-alvo para o rastreamento trienal. Eram mulheres entre 25 e 64 anos que não estavam chegando aos serviços de saúde com essa finalidade. “Nosso trabalho surgiu como enfrentamento da baixa demanda espontânea. No período pós pandemia, essa demanda era muito baixa e sempre as mesmas pessoas buscavam o exame. Entendendo a importância do diagnóstico precoce, começamos a aproveitar todos os espaços possíveis para captar essas mulheres", afirma a gestora pública e assessora técnica do município, Lidja Kalliny Gomes dos Santos.
No diagnóstico situacional realizado pela Secretaria Municipal de Saúde, além de identificar a repetição excessiva do exame por um mesmo grupo de usuárias, observou-se também que a busca ativa do público alvo estava enfraquecida e havia demora na liberação dos resultados pelo laboratório credenciado, o que dificultava a continuidade do cuidado. Com base nessa situação, foram traçadas as medidas necessárias e urgentes para fortalecer a linha de cuidado da saúde da mulher no município.
“Montamos um plano de ação com 100% das equipes, identificando as mulheres que não faziam exames há mais de 3 anos pelos sistemas de informação, e fomos fortalecer essa busca ativa com convite individual e solicitação médica, quando recebiam outros atendimentos na unidade. As mulheres que procuravam a UBS para o controle da hipertensão e diabetes, por exemplo, eram convidadas a agendar o citopatológico", explica Lidja.
O papel dos agentes comunitários de saúde foi muito importante, com o estabelecimento de metas para captação de novas mulheres em cada microárea de atuação. A busca ativa também envolveu a interlocução com diferentes políticas públicas, como o Bolsa Família, que possibilitou o agendamento e acompanhamento da realização do exame. Outras estratégias foram a marcação do citopatológico em atividades coletivas na unidade de saúde e a abertura de horários alternativos para o atendimento, como no almoço ou à noite, facilitando a presença de mulheres que trabalham.
Ampliação do cuidado
O fortalecimento da prevenção ao câncer de colo de útero se estendeu aos cuidados em torno do câncer de mama. Mulheres que estão na faixa etária para a realização da mamografia, têm seu exame também agendado no momento de realização do citopatológico. Outra medida importante para que a prevenção ao câncer se traduzisse em soluções efetivas foi garantir um melhor fluxo dos resultados com a rede privada. Com a intervenção, a espera pelo resultado do citopatológico, que antes era de seis meses, caiu para um prazo entre 15 e 30 dias.
Cida Augusta, moradora do município, elogia o serviço e ao mesmo tempo fala da dificuldade de algumas colegas em realizar o exame com um enfermeiro do sexo masculino, responsável pelo cuidado na unidade de saúde. Para ela, que considera a conduta do profissional exemplar, não houve problema. O sentimento é compartilhado por Sônia Maria, que não realizava o exame há muitos anos por receio, mas identificada pela equipe no sistema de informação, respondeu ao convite e fez o citopatológico. “Eu diria que todas as mulheres devem ter o cuidado de se prevenir, realizando os exames anualmente. Eu vou continuar fazendo", afirma.
Para ampliar a presença feminina, houve um ajuste e a coleta passou a ser realizada por uma enfermeira, embora todo o acompanhamento, inclusive a consulta prévia, se mantivesse com o enfermeiro da unidade. Como o alvo da procura eram mulheres que não faziam o exame há mais de três anos, a exemplo de Sônia Maria, ou aquelas que nunca haviam realizado, a estratégia se mostrou bem sucedida. Os números revelam que 62% de toda coleta de citopatológico em 2023 foi realizada em mulheres com esse perfil. Em 2024, 52% dos exames se direcionaram também a esse público alvo.
Jucurutu tem aproximadamente 18.861 pessoas cadastradas na Atenção Primária à Saúde (APS) e o município oferece 100% de cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF). Dados do Previne Brasil demonstram uma trajetória ascendente na realização do citopatológico a partir da intervenção. O Indicador do 2º quadrimestre de 2022 do Previne Brasil mostrava 14% de realização do exame, número que saltou para 43% no último quadrimestre de 2025.
A partir do resultado, qualquer alteração é direcionada pela ESF para atendimento, com a garantia da consulta ginecológica. A busca ativa tem se traduzido em diagnósticos precoces, que aumentam muito a chance de salvar vidas. Em 2022, oito lesões foram diagnosticadas; já em 2023 foram 18 e, em 2024, foram 25 lesões diagnosticadas precocemente. A equipe ressalta ainda os resultados qualitativos, como o fortalecimento de vínculo do usuário com a APS. “A unidade está me buscando para uma demanda que nem eu sei que preciso. Isto traz o reconhecimento da APS como ordenadora do cuidado, através de uma estratégia que extrapolou a saúde da mulher em direção a outras linhas de atenção, como a de controle da diabetes e hipertensão e da pessoa idosa", explica a coordenadora.
O projeto também contribuiu com a valorização do profissional, que identifica os resultados na sua atuação. “É uma sensação de dever cumprido, de potencialidade. Eu preciso mobilizar os outros profissionais para executarem os serviços, fazendo com que as equipes se engajem, mostrem resultado e curtam o processo. Esse projeto mostra a Saúde da Família sendo família. Mostra o SUS que protege, promove, não espera e age diretamente nos problemas de saúde pública, em especial na prevenção", conclui Lidja.