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Vigilância em Saúde de Belém-PA se une à educação no desafio de enfrentar o coronavírus


01/04/2022 11h19 - Atualizada em 01/04/2022 11h19

O município de Belém, capital do estado do Pará, tem desenvolvido uma política de Vigilância que incorpora às práticas do SUS o uso da tecnologia e abre seu campo de atuação para outras áreas, fortalecendo a intersetorialidade. Uma das experiências de destaque foi desenvolvida a partir da utilização de um aplicativo, denominado Guardiões, que impediu o avanço de surtos de Covid-19 nas escolas da rede pública municipal, apesar do retorno às aulas presenciais.

O projeto consiste na escolha e treinamento de dois profissionais em cada escola da rede municipal de ensino, para se tornarem “guardiões da saúde na educação”. Através do aplicativo instalado nos seus aparelhos celulares, eles verificam diariamente se algum aluno ou profissional da escola não compareceu ou apresenta sintomas de síndrome gripal. O dispositivo tecnológico identifica o usuário, ajuda a caracterizar sintomas e manda em tempo real as informações para a Vigilância, que dará continuidade à investigação.

No sistema, desenvolvido em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA), foram reunidos os dados de cerca de 70 mil estudantes e de mais de sete mil servidores da Educação. A Vigilância segue então um protocolo de segurança envolvendo o contato com as famílias, a testagem e a orientação sobre o isolamento. “A partir das informações, verificamos se os sintomas são compatíveis com Covid-19 e, dependendo do caso, vamos à casa da pessoa. A família poderá ficar isolada por no mínimo dez dias”, afirma o médico e diretor de Vigilância à Saúde da Secretaria Municipal de Saúde de Belém (SESMA), Claudio Guedes Salgado.

 

A rede municipal de educação é formada por aproximadamente 203 escolas. O guardião pode ser qualquer funcionário da instituição que conheça os alunos e os servidores, tenha um comportamento sociável e aceite se voluntariar no projeto. Alguns têm perfil de gestão, outros atuam em áreas como administração ou serviços gerais e todos passam por um treinamento para utilizar o aplicativo. “Nas escolas públicas municipais conseguimos conter o surto, que chegou no máximo a três casos simultâneos, enquanto em escolas privadas, que não aderiram ao sistema, chegaram a se contaminar cerca de 15 pessoas ao mesmo tempo”, conta o diretor.

A aproximação entre as Secretarias de Saúde e Educação se iniciou ainda no período massivo de vacinação contra o coronavírus. Como os professores estavam no quarto grupo prioritário a receber a vacina, de acordo com critérios da Política Nacional de Imunização (PNI), os profissionais da Educação se mobilizaram para defender uma antecipação da vacina, que os colocasse no terceiro grupo, considerando a iminência de retorno às aulas presenciais. Outra reivindicação foi a ampliação do quadro de profissionais da educação incluídos no grupo prioritário, antes restrito aos professores, o que incluiria servidores administrativos, de apoio, porteiros, merendeiros, etc.

Na esteira de um processo de colaboração mútua, a Secretaria Municipal de Saúde mobilizou cerca de mil voluntários para ajudar na primeira fase da imunização, organizando, com apoio da Educação, pontos de vacinação em universidades, escolas e postos de saúde. A parceria se intensificou com a implantação do Aplicativo Guardião, que possibilitou um trabalho mais ostensivo de Vigilância, evitando que o ambiente educacional se tornasse espaço de disseminação de surtos da doença e, consequentemente, de ampliação da transmissão entre a população de Belém.  “Com essa experiência mostramos como a Vigilância, quando atua, consegue fazer o enfrentamento. Não identificamos surto de transmissão dentro da escola”, afirma a psicóloga e coordenadora da Coordenação Integrada da Educação e Saúde, Camila Maria Figueiredo Malcher, vinculada à Secretaria Municipal de Educação (SEMEC).

 

Georreferenciamento e Planejamento

Belém é regionalizada em Distritos Administrativos, o que determina a organização do trabalho da gestão por área distrital que engloba determinados bairros. O uso do Aplicativo Guardião permitiu mensurar a quantidade de notificações por período, por escolas, pelo número de crianças e servidores contaminados, em uma estratégia eficiente para o planejamento das ações em âmbito distrital. “Com o georreferenciamento – que identifica as áreas com maior número de casos – pudemos emitir alerta à população e até fechar escolas por uma ou duas semanas para controlar a situação. Também conseguimos manejar a disponibilidade de testes para não faltar nas escolas. Quando não tínhamos teste rápido, afastávamos a pessoa enquanto não saía o resultado do PCR”, afirma o coordenador da Vigilância.

“A Covid-19 aparece mais nas escolas através dos adultos”, afirma Camila. O aplicativo, segundo ela, permitiu ver essa realidade, como também contribuiu com um engajamento da comunidade escolar no enfrentamento da pandemia. Independente da diminuição do número de casos, o sistema continua funcionando, com a atualização do banco de dados e a manutenção das notificações. “Os guardiões compraram a política ao verem que funciona. Na medida em que foi se dando a aplicabilidade nas escolas, eles foram confiando”, comemora a coordenadora.

Imunização

Na campanha de imunização contra a Covid-19, a Vigilância em Saúde desenvolveu outro aplicativo, o  Belém Vacinada, que eliminou as notificações em papel, permitiu o acompanhamento da vacinação em tempo real e criou uma inter-relação entre o banco de dados de vacinação com outros sistemas, inclusive o nacional. “Esse aplicativo, feito em parceria com uma empresa incubada na Universidade Federal do Pará, facilitou muito a programação das nossas ações”, comemora Claudio Salgado.

O sistema de informação da Vigilância permitiu, por exemplo, identificar a baixa adesão à vacinação infantil contra a Covid-19 nas ilhas de Belém, onde se concentram 400 estudantes ribeirinhos. Só na ilha do Combu residem aproximadamente 500 famílias e embora haja uma unidade de saúde bem estruturada, o deslocamento dificulta o acesso à imunização. Em mais um trabalho integrado entre Saúde e Educação, os gestores das escolas foram mobilizados para um dia de vacinação em uma das suas unidades, utilizando-se de lanchas, que são os transportes escolares, para buscar os alunos. O resultado foi a imunização de 350 pessoas em um único dia, das quais 300 crianças.

“Nessa ocasião apareceu um casal, de 80 e 81 anos, que veio se vacinar pela primeira vez aproveitando a facilidade de deslocamento. Só em ter atingido esse casal, já valeram todos os esforços de vacinação. Eu me sinto em um levante, porque nosso trabalhado é muito articulado, coletivo, e o comprometimento da Vigilância é incrível”, reconhece a coordenadora. E assim a parceria segue beneficiando a população, com novos projetos que envolvem levar o calendário vacinal do município para as escolas e desenvolver um aplicativo para a notificação de violência no ambiente educacional, fortalecendo essa teia que faz do SUS uma ampla política intersetorial.