Palmeira das Missões - RS
Reportagem Especial- Bonde da Vacina: estratégia adotada em Palmeira das Missões-RS leva vacina ao encontro dos usuários
12/05/2023 11h39
É preciso um trabalho grandioso para levar a montanha a Maomé. No pequeno município de Palmeira das Missões, Rio Grande do Sul, o famoso ditado popular se traduziu em estratégia de combate à Covid-19. Passado o pior momento da pandemia, quando chegaram as vacinas, em 2021, a procura pelo imunizante começou intensa, mas foi gradativamente diminuindo. Uma tendência verificada em várias partes do País e também na cidade gaúcha de pouco mais de 34 mil habitantes.
Enquanto, no início da campanha, os mais idosos – principal grupo de risco da doença – lotaram as unidades de saúde; quando chegou a vez dos mais jovens, a procura não foi a mesma. As análises dos indicadores semanais da cobertura vacinal mostravam que, especialmente entre a população de 18 a 39 anos, o percentual estava abaixo dos 90% esperados. Para tentar resolver o problema, num primeiro momento, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) apostou na ampliação do atendimento para o turno da noite e aos finais de semana, a fim de atender aqueles que não haviam tomado a vacina em função do horário de trabalho. Sem sucesso, foi necessário mais criatividade para achar novas formas de chegar à população.
Foi aí que se criou o “Bonde da Vacina”, estratégia que mobilizou diversas equipes da Secretaria, e até de outros setores da Prefeitura, para oferecer os imunizantes diretamente à população. A ideia era simples: mapear, de acordo com as unidades censitárias do município, as áreas de maior concentração de pessoas na faixa etária buscada e os territórios em que o índice de vacinação estivesse aquém do esperado - lugares como o bairro de Westphalen, área de vulnerabilidade social.
Assim, depois de um carro de som anunciar a visita das equipes de saúde, os grupos formados pela Atenção Básica em parceria com a Vigilância em Saúde se dividiam em duplas e abordavam os moradores, avaliando se cumpriam os critérios exigidos e fazendo as imunizações. “A equipe se deslocava de casa em casa para saber se havia pessoas na faixa etária sem vacina e, depois, o técnico de enfermagem ia lá aplicar”, explica a enfermeira Cristiane Moraes, que à época estava à frente da Vigilância Epidemiológica e do setor de imunizações da SMS de Palmeira das Missões.
Segundo ela, a iniciativa só se tornou viável porque contou com a participação ampla de diversos setores da área da saúde. Além dos trabalhadores da Atenção Básica e da Vigilância, também participaram estagiários, profissionais de territórios diferentes daqueles que seriam visitados e até voluntários, trabalhadores dos setores administrativos da SMS, que também se envolveram em prol da vacinação.
Muito além da Covid-19
O foco inicial era completar o esquema vacinal de Covid-19, mas a ação foi importante para reforçar os números da campanha de Influenza, que também registrava queda. “Nos outros anos, a população se deslocava até a unidade de saúde para receber a vacina, mas no período da pandemia, como tinha aquela restrição e o risco de contaminação, de exposição ao Covid-19, as pessoas acabaram não procurando as unidades”, explica Cristiane. Além dos trabalhadores das lojas, os profissionais aproveitavam para imunizar também os clientes.
Já na área da ESF (Estratégia Saúde da Família) Westphalen, bairro da periferia de Palmeira das Missões, a estratégia contribuiu especialmente para alcançar os indicadores de vacinação das crianças, de acordo com Andressa Magalhães, atual coordenadora da Atenção Básica do município. Segundo ela, a distância do centro, a menor oferta de ônibus na cidade durante aquele período e a situação de maior vulnerabilidade social das famílias foram alguns dos fatores que levaram ao número mais baixo de doses aplicadas. “Naquele momento, foi bem importante essa estratégia, a gente conseguiu ampliar bastante a cobertura vacinal”, comenta.
O “Bonde da Vacina” seguiu sendo realizado até o começo de 2022, quando Palmeira das Missões alcançou os indicadores almejados na campanha contra a Covid-19 e contra a Influenza, superando inclusive resultados alcançados pelo Estado. Hoje, com uma nova campanha de imunização contra a Covid-19 e a Influenza, mesmo diante de um cenário bem mais controlado da pandemia, Andressa não descarta a possibilidade de retomar a estratégia bem sucedida.
“A maior parte da população recebe bem as equipes. A maioria não ia [tomar a vacina], não por não querer, mas por algum impeditivo externo, questões de trabalho, por exemplo, ou porque não sabia da informação”, reforça. Além de levar o Bonde da Vacina novamente às áreas comerciais, a coordenadora antecipa que a estratégia deve ser continuada no território do Westphalen. Uma mostra de como boas iniciativas e um olhar sistêmico são capazes de firmar na prática o pacto coletivo de imunização das populações.