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Teotônio Vilela - AL

Mulheres com fibromialgia recebem atendimento especializado em Teotônio Vilela


26/05/2023 15h22

Teotônio Vilela é um município localizado a 100 km da capital de Alagoas, Maceió, cuja população gira em torno de 44 mil habitantes. No final de 2021, a Secretaria Municipal de Saúde decidiu criar, no Centro Especializado em Reabilitação (CER) do município, o Projeto Superação, voltado ao atendimento integral da fibromialgia, considerando todos os aspectos inerentes à doença. A iniciativa é fruto da sensibilização da gestão em torno do crescimento no número de mulheres apresentando sintomas de fibromialgia, que precisavam se deslocar para outros municípios em busca de tratamento.

O serviço, que funciona com recursos próprios do município, possibilitou que centenas de moradoras passassem a ser acompanhadas por uma equipe multiprofissional - composta por assistente social, enfermeira, fisioterapeuta, nutricionista, psicóloga, médico psiquiatra, reumatologista, neurologista e ortopedista, entre outras especialidades, garantindo assistência qualificada em um ambiente totalmente novo, moderno e estruturado. O fluxo de atendimento começa na Atenção Básica, onde a suspeita do diagnóstico leva ao encaminhamento para a Atenção Especializada.

A fiobromialgia é uma doença de diagnóstico difícil, que provoca dor crônica em vários pontos do corpo, sobretudo em tendões e articulações. Muitas vezes está relacionada a baixos níveis de serotonina, desequilíbrios hormonais, tensão e estresse. Atinge, em sua maioria, mulheres entre 35 e 50 anos. Em Teotônio Vilela, grande parte das mulheres que apresentaram os sintomas estão acima de 40 anos, têm vida laboral ativa, mas algumas tiveram que se afastar das atividades profissionais e sociais por conta da doença.

Dona Maria do Socorro Silva de Jesus, de 64 anos, começou a se tratar das dores incessantes que sentia nos ossos em 2002. Doméstica aposentada, ela conta que muitas vezes não conseguia sequer levantar da cama, tomava muitos remédios e vivia em um estado de depressão associado à intensidade das dores. Os tratamentos, imprecisos, a levavam a uma peregrinação em busca de médicos que pudessem prescrever cuidados para aliviar suas dores.

O diagnóstico correto só veio em 2018, quando ela descobriu pela internet um fisioterapeuta que atendia em Fortaleza. Pagou uma consulta particular e ouviu do profissional a sentença: a doença que a fragilizava era a fibromialgia. Voltou para Teonônio Vilela com a indicação de uma fisioterapeuta e a prescrição de exercícios de pilates, hidroterapia e fisioterapia. Como na clínica particular onde se tratava não havia piscina, a hidroterapia só foi iniciada quando o Centro Especializado em Reabilitação do município foi inaugurado.

“Não tenho nem palavras para descrever o atendimento dentro do CER. Lá reencontrei a vontade de viver, o desejo de lutar pelas coisas que eu gosto. Naquele dia em que eu entrei no CER, minha vida mudou 80% para melhor”, comemora. Dona Socorro diz que no CER recebe todos os atendimentos que precisa, com acompanhamento da reumatologista, fisioterapeutas e psicóloga. Ela frequenta o espaço duas vezes por semana - um dia para a aula de pilates e outro para a hidroterapia - e quinzenalmente faz parte do grupo de psicoterapia.



Rede de Atenção

A partir do atendimento inicial em qualquer uma das 19 Unidades Básicas de Saúde do município, e havendo suspeitas da doença, a usuária pode ser encaminhada ao Centro de Reabilitação, onde passa por um triagem com profissionais de enfermagem, assistência social e fisioterapia. O tratamento fisioterapêutico inclui acupuntura, hodroterapia, pilates e fisioterapia motora. De acordo com o fisioterapeuta Wanderson Felipe Venceslau, apoiador técnico do Centro de Reabilitação, o tratamento possibilitou que um grande número de mulheres pudesse retomar atividades sociais e profissionais que haviam sido interrompidas em função das dores. Algumas não conseguiam sequer ir ao supermercado. O projeto também foi responsável pela diminuição da medicalização.

Com experiência acumulada desde o início do projeto, Wanderson aponta a incompreensão em torno da doença como uma dificuldade enfrentada pelas mulheres com fibromialgia. “Por não se tratar de uma dor “visível”, atuamos junto às famílias para esclarecer dúvidas e promover a conscientização. As próprias pacientes são inseridas em grupos terapêuticos, intermediados pela psicóloga, e encaminhadas para psicoterapia individual quando necessário. Também é mantido o tratamento com psiquiatra ou reumatologista das pacientes que necessitam do acompanhamento”, afirma o profissional.

Mais de 200 mulheres com fibromialgia já foram acompanhadas no Centro de Reabilitação de Teotônio Vilela e atualmente 64 estão em tratamento. Por se tratar de uma doença crônica, as pacientes podem enfrentar fases mais agudas. Não há um prazo determinado para se manter em tratamento, depende da evolução individual. Um indicativo importante do sucesso da experiência, no entanto, que envolve também educação em saúde para que as mulheres tenham autonomia no próprio cuidado, é a ausência de pacientes que retornam ao programa com quadro de agravamento do caso.

Dona Socorro costuma fazer caminhadas e exercícios em casa nos dias em que não vai para o CER, de acordo com as orientações recebidas pelas profissionais de saúde. Casada, mãe de seis filhos, ela agradece aos profissionais a redução das dores que sentia cotidianamente, uma evolução que percebe na vida de cada paciente inserido no programa. “O CER foi uma luz na vida de várias pessoas que viviam sofrendo, em cadeira de rodas, que nem sequer ficavam em pé. Com seis meses de tratamento, vemos as pessoas saírem andando. Gostaria que os governantes olhassem para esse trabalho e mandassem mais ajuda, porque é uma bênção para toda população de Teotônio Vilela”.

Como resultado do trabalho multiprofissional, aferido por meio de questionário próprio, a equipe observou que mais de 40% das pacientes diminuíram o uso de fármacos para alívio de dores e mais de 60% voltaram a exercem suas funções diárias com mais conforto, com retorno ao convívio social. Houve também uma redução de 50% no uso de antidepressivos.