Catanduva - SP
Reportagem especial: protocolo de atendimento domiciliar leva qualidade de vida aos pacientes acamados em Catanduva-SP
28/06/2023 16h04
Em 2021, quando parecia que a pandemia de Covid-19 estava ficando sob controle, novos casos da doença e mais mortes do que no ano anterior voltaram a preocupar a Organização Mundial de Saúde (OMS), os profissionais e a população de modo geral. Em Catanduva, no estado de São Paulo, não foi diferente. “Por ser uma doença desconhecida, passamos por momentos de muitas incertezas”, relata a enfermeira Camila Santis, 29 anos, que à época atuava na Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município paulista.
“Exatamente em junho de 2021, o cenário era desesperador: muitos pacientes se agravando rapidamente, montagem de leitos em UPA’s, ausência de leitos em ambientes hospitalares, sobrecarga profissional, número de mortes além do esperado, familiares desesperados devido a mortes da família”, descreve a profissional.
Mesmo diante de um quadro tão preocupante, a SMS conseguiu desenvolver um novo protocolo para o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), voltado para atender em casa os pacientes com sequelas pós-Covid. Com a atuação da Equipe Multidisciplinar de Atenção Domiciliar (EMAD), criou-se um novo fluxo de atendimentos envolvendo diversos profissionais, como médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas e psicólogos, desde a Atenção Primária até os hospitais.
O protocolo acontece em duas etapas: na primeira, o paciente recebe a visita de um profissional da EMAD ainda no hospital e é classificado de acordo com o nível de sua Atividade Diagnóstica (AD), que varia de um a três. No nível AD1, o usuário é encaminhado para a Atenção Primária; já nos níveis AD2 e AD3, o paciente é considerado apto para acompanhamento domiciliar. “Concomitante a isso, a equipe também vai à casa e avalia as condições da residência. Muitos pacientes pós-covid necessitavam, por exemplo, de um oxigênio. Então precisava verificar se a casa tinha condições de ter um oxigênio, um concentrador, se tinha tomada, se tinha um cuidador específico para aquele paciente. Isso tudo é feito antes dele receber alta”, explica Camila.
Ela lembra que foi necessário adotar esse procedimento em função da quantidade de pacientes que estavam saindo de uma internação e ainda precisavam ficar acamados, mas sem referência adequada para a continuidade do tratamento. “A única referência era a Atenção Primária, que não tinha a expertise do atendimento domiciliar no contexto de casos graves”, observa Camila.
Assim, depois de criado o novo protocolo, foi preciso fazer a articulação junto aos hospitais de Catanduva e capacitar todas as equipes para implantar o procedimento. “A principal dificuldade era iniciar o serviço porque a equipe estava fazendo toda a parte do monitoramento dos casos de Covid e, ao invés de diminuir a demanda do coronavírus, em 2021, houve um aumento que ninguém esperava”, diz Camila.
Para além da Covid-19
Superada a dificuldade inicial, os resultados do novo protocolo são visíveis. Tanto que, até hoje, o município de Catanduva continua realizando os atendimentos domiciliares para casos graves após internação, mesmo quando não se referem à Covid-19. Segundo Eduarda Margonar, 32, enfermeira que continua acompanhando de perto o trabalho da EMAD, cerca de 80 pacientes estão em acompanhamento e muitos até já receberam alta, uma vez que estavam em processo de reabilitação.
“O resultado foi basicamente a qualidade da assistência prestada ao paciente pós-alta hospitalar. Conhecer o paciente beira-leito, ter a discussão de caso, conhecer o contexto biopsicossocial, não pensar só na questão da saúde, da doença, mas pensar no contexto social. Ter uma visita prévia junto com a equipe que tá acompanhando, com certeza acaba dando uma qualidade importante ao serviço”, avalia Camila.
“Após a implementação da EMAD, tivemos um aumento da desospitalização para pacientes em cuidados paliativos”, ressalta Eduarda, lembrando que o maior objetivo do protocolo é dar às pessoas as condições necessárias para que possam se reabilitar no menor tempo possível, além de dar apoio psicológico aos familiares e cuidadores responsáveis. “Para mim, é muito satisfatório ver a recuperação da qualidade de vida dos pacientes”, conclui a profissional.