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Juquiá - SP

Reportagem especial: Juquiá-SP cria Programa de Fortalecimento Pós-Covid-19 para tratar sequelas da doença


06/07/2023 15h04

Quando a Pandemia de Covid-19 surpreendeu o mundo, não se sabia o tamanho do desafio que viria pela frente. Ter o Sistema Único de Saúde (SUS), um modelo que é referência em muitos países, minimizou no Brasil as perdas de vidas humanas e as repercussões deixadas pela doença. Sobretudo considerando que, com o passar do tempo, ficou evidente que a Covid-19 poderia provocar diferentes sequelas em indivíduos que se infectaram: problemas cardiovasculares, dificuldades motoras, insuficiência respiratória, entre outros efeitos que comprometem o retorno ao cotidiano.

Para prestar assistência à parcela da população que teve suas atividades motoras e respiratórias comprometidas e desenvolveu doenças psicológicas, a Secretaria de Saúde do município de Juquiá instituiu o Programa de Fortalecimento Pós-Covid-19, iniciado em agosto de 2021. Juquiá, município localizado na região do Vale do Ribeira, interior de São Paulo, tem população estimada em 18.627 habitantes (IBGE 2021) e economia baseada sobretudo na prestação de serviços, agropecuária, administração pública e indústria.

A Atenção Básica é composta por sete unidades de saúde, sendo seis da Estratégia de Saúde da Família (ESF), além de uma Unidade de Fisioterapia e Reabilitação, um Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) e um Polo Academia de Saúde. O município utilizou-se dessa estrutura para acompanhar 122 usuários do SUS com comprometimentos diversos após desenvolverem Covid-19.

É o caso de seu João Carneiro, pedreiro de profissão. Não havia serviço em uma obra de construção que ele não fizesse com esmero e dedicação. Em 2020, aos 65 anos, viu a vida virar do avesso quando a pandemia se instaurou com força no Brasil e o pegou de jeito, pouco antes de tomar a primeira dose da vacina. Vieram as dores nas pernas e nos braços, a fraqueza no corpo, faltou ar. Seu João foi internado, voltou para casa e de lá não saiu nos longos seis meses que se seguiram. Perdeu a força motora e a capacidade de ações corriqueiras como escovar os dentes. Até que conheceu o Programa de Fortalecimento Pós-Covid-19, que lhe permitiu recuperar completamente a capacidade motora e de trabalho.

Foi através de pesquisas que a equipe descobriu estudos avançados, desenvolvidos em países como o Canadá e os Estados Unidos, que já realizavam um programa de reabilitação por meio da atividade física. Com suporte técnico do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul, município da mesma região de saúde de Juquiá, foi criado um protocolo de atendimento para os pacientes pós-Covid em alta das internações.

Para chegar a essas pessoas, as equipes de saúde as identificavam, através de busca ativa, mapeando internações na UTI, na enfermaria ou isolamentos domiciliares. Elas eram acolhidas por “promotores de saúde” e a escuta qualificada definia o direcionamento do tratamento adequado. Dessa forma, seu João Carneiro foi um dos usuários incluídos no projeto.

O programa criado em Juquiá tinha duração de seis semanas e foi dividido em duas partes: nas duas primeiras semanas era trabalhada a adaptação do paciente para a atividade física e nas seguintes os focos eram a reabilitação, o fortalecimento muscular e a recuperação cardiorrespiratória. A equipe multiprofissional era formada por dois educadores físicos, três fisioterapeutas, assistente social, psicóloga e fonoaudióloga.

O grupo acompanhava os pacientes em atividades de educação física, fonoaudiologia, serviços de psicologia e fisioterapia. A porta de entrada para o programa era a avaliação com os educadores físicos, dentre os quais André Luiz Simões Rato, um dos idealizadores.

A resposta ao tratamento surpreendeu até os profissionais que não tinham parâmetros comparativos anteriores para uma doença que se sabia muito pouco sobre sua evolução. “Eu acompanhei casos bastante significativos, um deles foi o Sr. Mário, um caminhoneiro de 67 anos que ficou 40 dias na UTI, entubado, e deixou o hospital sem andar. Em cinco semanas, retomou a rotina, foi muito emocionante”, relata André.

Foi de fato notório o nível de recuperação dos pacientes assistidos pelos educadores físicos e fisioterapeutas, antes do prazo previsto pelo programa. Já nos atendimentos psicológicos que se iniciaram individualmente, posteriormente evoluíram para terapia em grupo, já que se consideram os efeitos colaterais prolongados, o que demandou uma atenção especial no tratamento.

O Programa de Fortalecimento Pós-Covid-19 é uma experiência com resultados exultantes: do total de 122 pessoas atendidas, 115 finalizaram o tratamento e recuperaram a capacidade de viver plenamente.