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Lassance - MG

Participação popular contribui para manter baixos índices de internação e mortalidade por Covid-19 em Lassance-MG


11/08/2023 16h06

Quando os primeiros casos de Covid-19 foram notificados no Brasil, houve quem desconfiasse da capacidade de disseminação do vírus. Entretanto, não demorou muito para que o novo coronavírus se espalhasse por todo o País, chegando até mesmo a pequenos municípios, como é o caso de Lassance, no interior de Minas Gerais, que tem população de 6.494 pessoas, segundo estimativa de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Junto com os primeiros casos notificados na cidade, surgiram dois desafios: o de informar e o de engajar os cidadãos, visando a prevenção da doença. À época, a população não compreendia a importância do distanciamento social, havia pouca adesão ao uso de máscaras e sobrava desconhecimento a respeito dos sintomas da doença. Por outro lado, profissionais de saúde encaravam a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), ausência de capacitação e a necessidade de redefinição de fluxos de atenção à saúde. Tais dificuldades motivaram a criação do Comitê Gestor de Enfrentamento à Covid-19 de Lassance, em maio de 2020, com representantes da gestão municipal e da sociedade civil.

Enfermeiro de formação, o secretário de Saúde do município, Atlos Cácio Gomes relembra o momento de idealização do comitê. “Para que a gente conseguisse o engajamento popular, usamos a estratégia de fazer um comitê diferente. Vimos que algumas cidades já tinham comitês, porém eram formados por profissionais de saúde e por pessoas da Secretaria de Saúde”, conta o gestor. “Levamos a proposta de fazer um comitê que tivesse os profissionais de saúde, a gestão também, todos os coordenadores da Secretaria, como da Atenção Básica e Assistência Farmacêutica, mas também um representante de cada secretaria do município e membros da sociedade”, explica Atlos.

Mais do que um espaço para discutir as medidas de enfrentamento à Covid-19, o comitê participava das deliberações. “Toda decisão era tomada não só pelo secretário ou pelo prefeito, mas levávamos o problema e uma solução para ser discutida no grupo. A gestão tem que ser feita com a participação popular, ouvindo as pessoas. Assim, a gente conseguiu um resultado muito bom”, ressalta. A mortalidade por Covid-19 em Lassance foi de 0,92 por 1.000 habitantes e a taxa de internação de 0,94% do total de pacientes atendidos no município.

Com o comitê em funcionamento, ainda foi possível reorganizar fluxos das unidades de saúde, definir prioridades orçamentárias e pensar ações de informação em saúde, como visitas domiciliares e o boletim informativo diário. Divulgado através dos meios de comunicação da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o periódico informava o número de casos confirmados nas últimas 24 horas, assim como o total de pacientes em isolamento. Como desdobramento, também foi criado o Boletim Epidemiológico semanal, contendo números referentes ao período, a distribuição por idade, sexo, comorbidade e localidade.



Presença do Cidadão

A cada reunião do comitê foram levantadas propostas, elaborados planos de ação, decretos e portarias. Aos poucos, os membros passaram a integrar outras áreas de atuação, como vigilância comunitária, e encontrar, juntos, soluções para o enfrentamento à Covid-19. Uma delas foi a viabilização de EPIs, por meio do fortalecimento da produção local de máscaras por costureiras do município.

Uma medida importante foi a instalação do Centro de Enfrentamento à COVID-19, com o apoio médico, de enfermeiros e um técnico de enfermagem para atender a população. Essas e outras ações foram pensadas e deliberadas ao longo de 35 reuniões do comitê. Atuante no coletivo, Cristiane Marcelino Farias, usuária do SUS e presidente do Conselho Municipal de Saúde de Lassance, acredita que a iniciativa foi importante para vencer a resistência social às medidas de prevenção.

“O maior desafio foi conscientizar a população sobre o uso da máscara e a aglomeração. No começo foi bem complicado”, conta. Há dois mandatos à frente do Conselho de Saúde, ela avalia que a experiência lhe permitiu contribuir ainda mais com a área da saúde no município, em especial em um momento tão delicado como a pandemia.

“O comitê foi uma das melhores coisas que já tivemos. Sem ele, acho que os casos seriam bem maiores, porque nós orientamos e fiscalizamos. O comitê estava sempre alerta, eu gostei da experiência e sei que ajudou muito”, avalia Cristiane.