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Reportagem especial: Recife prioriza Gestão por Resultados com o uso de Painel de Monitoramento de Indicadores Estratégicos
20/09/2023 13h28
Recife, a capital do estado de Pernambuco, tem 1.653.461 habitantes, conforme último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para lidar com os desafios de garantir uma boa administração pública para uma população tão vasta e ao mesmo tempo tão diversificada, a Prefeitura priorizou o Modelo de Governança voltado à Gestão por Resultados (GpR).
Nessa perspectiva, a Secretaria Municipal de Saúde passou a desenvolver seu modelo de gestão utilizando o suporte de um Painel de Monitoramento de Indicadores Estratégicos. Com a adoção da ferramenta, foi possível estabelecer metas a serem atingidas e identificar quais as potencialidades e fragilidades para o seu cumprimento, fundamentando, assim, o processo decisório da gestão.
Foi um longo caminho de discussão, com ampla participação, até chegar aos indicadores prioritários e estabelecer os melhores mecanismos para alcançá-los, nas diferentes áreas estratégicas da saúde. O processo foi organizado em quatro etapas, que inicialmente priorizou o diagnóstico, para em seguida criar indicadores na busca de resultados.
A primeira etapa foi a análise dos ambientes interno e externo por meio da Matriz SWOT, uma ferramenta de gestão utilizada na administração para identificar as ameaças e fortalezas dos processos e estruturas de trabalho. Através da escuta dos gestores executivos e de parte da equipe gestora, foi possível observar que elementos como a pandemia e a interferência política eram ameaças externas ao processo de trabalho, enquanto o investimento em educação permanente, feito através da Escola de Saúde do Recife, era uma das potencialidades.
Ainda voltado ao levantamento de dados e ao diagnóstico, iniciou-se a segunda etapa, cujo foco era desenvolver o desenho do Mapa da Estratégia 2021-2024 e o Modelo de Governança da gestão da Secretaria de Saúde, com base no trabalho descentralizado. Nesse momento, foram envolvidos os colegiados de gestão e do controle social.
Um dos momentos centrais do projeto, durante a terceira etapa, foi a realização de sete oficinas, que envolveu a participação de 83 profissionais, entre gestores e técnicos de áreas como Atenção Básica, Vigilância em Saúde e Regulação, com o objetivo de promover a escuta qualificada. “Primeiro realizamos um alinhamento conceitual, com o objetivo de explicar a importância do monitoramento, o papel do indicador e o que seria feito a partir dali. Depois propomos que eles reunissem informações sobre o seu processo de trabalho, o que gerou um grande contingente de material”, explica a gestora em saúde, Juliana Ferreira Rozal, doutoranda em enfermagem e apoiadora técnica da Secretaria Municipal de Saúde.
Com base nas informações que foram sendo trazidas pelos participantes das oficinas, foi construído um modelo lógico preliminar, onde foi definido o que é estrutura, o que é propósito, o que é resultado e o que se deseja alcançar, a partir de um arcabouço teórico que subsdiou o debate. “Levando em consideração o que os profissionais trouxeram, ficou definido como resultado final ou impacto: o alcance da melhoria das condições de saúde da população recifense. Para tanto, foi necessário definir os indicadores, levando-se em consideração quatro itens: simplicidade, relevância, validade, condição traçadora ou evento sentinela”, complementa a gestora.
Monitoramento
Por meio de votação, foram escolhidos os indicadores mais relevantes para o município, o que levou à formulação de 87 indicadores que passaram a compor o Painel de Monitoramento, sendo avaliados a cada dois meses. As informações foram estratificadas e passaram a ser compartilhadas a partir das áreas de interesse dos diferentes níveis de gestão. Um exemplo: o indicador que mede a proporção de mulheres que realizam o pré-natal foi compartilhado com as coordenações das Unidades Básicas de Saúde (UBS), enquanto o indicador sobre as despesas liquidadas da Secretaria se destinou à gestão central.
Cada indicador foi sendo construído a partir do histórico dos anos anteriores, para que as metas se tornassem factíveis. O responsável técnico de determinada área, como Atenção Básica ou Vigilância, assumiu a função de alimentar aquele dado, com a atualização bimestral. O painel foi elaborado em uma planilha em excel, com georreferenciamento de alguns indicadores por distritos. “A planilha contém 87 abas, cada uma com um indicador. É uma experiência fácil de ser replicada porque usamos uma tecnologia muito simples”, afirma Juliana.
“De dois em dois meses, a gente se reúne com o colegiado gestor e monta um caderno do painel com os resultados obtidos, acompanhado de uma nota técnica com explicações sobre o que foi ou não realizado para atingir aquele indicador", reforça. Mais do que uma experiência de acompanhamento, o Painel se configurou como uma ferramenta de gestão. Nas reuniões colegiadas, diante dos indicadores que não foram alcançados, vão sendo desenhadas estratégias para a melhoria dos resultados.
A Secretaria Municipal de Saúde de Recife é dividida em oito Distritos Sanitários. Em novembro de 2022, as discussões em torno do Painel de Monitoramento de Indicadores Estratégicos se expandiram dos colegiados de gestão para os Distritos, o que permitiu o desenvolvimento de um olhar mais descentralizado em relação aos mecanismos de gestão. “Como o Painel traz a corresponsabilidade e o apontamento das decisões conjuntas, despertou nos profissionais um processo de tomada de decisão a partir do modo como se enxergam e discutem entre si”, avalia Juliana, que é também uma das autoras do projeto.
Os dados do painel são acessados pela equipe gestora e disponibilizados publicamente de forma resumida nos relatórios e balanços de gestão anual. A experiência vem sendo bem avaliada pelos profissionais envolvidos e a adesão ao processo de trabalho está sendo crescente. Atualmente, o Painel passa por uma reformulação para atender a algumas sugestões e atualizar a tecnologia a partir da estratégia de BI (Business Inteligence).