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Viamão - RS

Reportagem especial: parceria com a Educação impulsiona vacinação infantil contra a Covid-19 em Viamão-RS


22/09/2023 16h30

Quando a vacina contra a Covid-19 foi liberada no Brasil para crianças acima de 5 anos, as reações da população se dividiram entre o alívio e a apreensão. A experiência ainda muito recente de utilização do imunizante, aliada a uma política de desinformação que colocava em xeque os critérios científicos de eficácia e segurança, refreou a visita aos postos de vacinação. Para estimular as famílias a protegerem suas crianças das formas mais graves da doença, garantindo a imunização, o município de Viamão (RS) desenvolveu um projeto que uniu ações de educação em saúde, trabalho intersetorial e integralidade do cuidado.

Como em Viamão se observava o aumento da procura por atendimento nas unidades de saúde em decorrência de síndromes respiratórias, o município buscou estratégias de acolhimento das crianças e seus familiares em ambientes mais seguros. “Com o número altíssimo de sintomáticos respiratórios dentro das unidades de saúde, onde eram realizados cerca de 300 testes de Covid-19 por dia, nos perguntávamos onde colocar as crianças em espaços em que não corressem risco de contaminação”. conta Juliane Guimarães Salgueiro, enfermeira e coordenadora do Programa Municipal de Imunização.

Embora o Plano Estadual de Enfrentamento à COVID-19 estabelecesse as unidades de saúde como locais indicados para a campanha de imunização, Viamão apostou em uma estratégia diferenciada. “Em 2022, quando começaram a circular as informações da vacinação infantil, surgiu a ideia, que partiu do Prefeito, de tentar recuperar as práticas mais tradicionais de vacinação escolar. Convocamos o comitê e o convite foi extensivo para a educação. Foi bastante difícil abraçar essa forma de trabalho, mas a gente apostou na capacidade técnica e na singularidade da nossa cidade”, complementa a enfermeira.

“O Estado, em um primeiro momento, se mostrou contra esse processo porque identificava que a vacinação tinha que ser em unidades de saúde. Mas mostramos para o Estado, através da gestão municipal, que a escola era um ambiente seguro, tanto quanto os ambientes de saúde, e tínhamos uma estrutura de atendimento e amparo às famílias. Foi inovador no sentido de enxergar a educação como importante para que a gente trabalhe a prevenção. E vacina é também um mecanismo de prevenção”, afirma Sander Severiano, coordenador municipal do Gabinete Integrado de Cuidado com as Pessoas, equipamento da Secretaria de Educação de Viamão.

A ideia foi reforçada pelas informações que chegavam dos agentes comunitários de saúde (ACS) sobre a insegurança das famílias em relação à vacinação infantil, alimentada por uma rede de notícias falsas. Nesse contexto, as escolas da rede municipal se tornaram o ambiente ideal e foi possível estruturá-las para a vacinação, com base em discussões técnicas e contribuição de diversos atores envolvidos no cuidado. O ambiente foi adaptado para manter uma sala de isolamento e adotar estratégias de distanciamento, de higienização e medição da temperatura no portão. 

Parceria e Inovação

Cerca de 70% do espaço territorial de Viamão está localizado na zona rural. “O escopo do Plano Municipal de Vacinação foi elaborado através do mapeamento de 5 regiões de saúde - Santa Isabel, Viamópolis, Central, Rural Itapuã e Rural Águas Claras - tendo em vista a qualificação do mesmo, com base em um levantamento realizado com a ajuda dos ACSs”, explica a coordenadora. Foram estabelecidos sete pontos estratégicos de vacinação nessas regiões e, em função da vasta extensão territorial do município, alguns foram fixados em áreas mais isoladas e com menos acesso.

Um dos aspectos inovadores do projeto, segundo Juliane Guimarães, foi a divisão do trabalho em três núcleos/ambientes dentro das escolas: o primeiro formado pela equipe de vacinação, composta por enfermeiro, técnico de enfermagem e agente de saúde, de preferência que já atuassem no território. O segundo composto por uma equipe de educação, que desenvolvia atividades lúdicas e de esclarecimento à população, com a presença de profissionais das escolas, professores, diretores e técnicos administrativos.

O terceiro núcleo foi composto por uma sala de observação, onde as crianças aguardavam cerca de 15 ou 20 minutos após receberem o imunizante, sob a supervisão da enfermagem. Era uma medida preventiva para verificar se teriam alguma reação adversa. Próximo aos 2 pontos localizados em áreas mais isoladas foram instaladas também ambulâncias. “Não tivemos nenhuma intercorrência grave, mas como era tudo muito novo, adotamos medidas de controle para que a população e nós tivéssemos mais tranquilidade”, explica a coordenadora de imunização.

Recursos lúdicos e pedagógicos e a sensibilidade dos profissionais deram leveza e garantia de atendimento seguro. A educação contribuiu com a estrutura física, rede de computadores com internet e o mapeamento dos pontos de menor vacinação. “Essa medida se perpetuou, tanto que hoje a gente monta o esquema vacinal em uma escola por dia na itinerância, atualizando todo calendário vacinal das famílias do território. Isso faz com que elas percebam o quanto a vacinação é importante e levem seus filhos na escola para vacinar, por ser um ambiente de muito mais aproximação com as comunidades. As famílias têm que ir na escola todos os dias, mas só procuram o posto de saúde quando estão doentes”, contextualiza Sander.

A campanha teve grande alcance, atingindo no primeiro mês uma média de 600 crianças vacinadas/dia. A mudança no cenário de vacinação foi fundamental para atingir a meta em pouco espaço de tempo. “Naquela época era livre para as famílias levarem as crianças para a escola ou optarem pelo ensino à distância, mas elas tinham a segurança de levar para o ambiente escolar para vacinar. E isso deu uma relevância enorme e aumentou o número de vacinados. Rapidamente a gente estava com mais de 50% da população infantil vacinada para Covid-19”, comemora o educador.