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Pontalina - GO

Reportagem especial: projeto estimula amamentação como ato de amor e sustentabilidade em Pontalina-GO


02/10/2023 17h09

Estimular a amamentação exclusiva e por mais tempo, com foco na saúde e bem-estar de mães e bebês, foi o ponto de partida para o projeto “Incentivando o mais simples em busca de melhores resultados - Aleitamento Materno”. Desenvolvido pela Secretaria Municipal de Saúde de Pontalina, em Goiás, localizado a 120 quilômetros da capital Goiânia, a iniciativa aprimorou a experiência de amamentação através de atendimento humanizado e multiprofissional, mobilizando outras secretarias da Prefeitura, como a de Ação Social e Meio Ambiente. Hoje, o projeto já beneficia cidades dos arredores, como Edealina e Cromínia, fortalecendo a regionalização em saúde.

Durante um dos períodos mais restritivos da pandemia de Covid-19, a autônoma Rafaela Alves de Oliveira, de 25 anos, descobriu que estava grávida. Devido às medidas sanitárias, teve que enfrentar a sala de cirurgia sem acompanhamento dos familiares. “Eu engravidei na pandemia, foi muito difícil porque, quando fui ‘ganhar’ meu neném, no hospital não podia ficar ninguém comigo. Tive que ficar sozinha até o pós-parto”, conta. Já na segunda gravidez, ela não só pôde ter companhia, como esteve entre as beneficiadas pelo projeto de aleitamento materno da SMS de Pontalina.

Hoje com dois filhos,  a mais velha de dois anos e o caçula de oito meses, Rafaela compara as duas experiências e descreve as dificuldades de amamentar quando foi mãe de primeira viagem. “Na minha primeira filha, eu ‘fui no céu e voltei’ porque doía demais”, relembra. “Com ela não tinha, por exemplo, teste da linguinha. Agora, com meu filho, já teve o teste, a fonoaudióloga fez o laser e cortou a língua dele, que era grudada. Foi super tranquilo”, compara.

O procedimento descrito por Rafaela Oliveira tornou-se padrão no Hospital Municipal de Pontalina a partir do projeto de incentivo ao aleitamento materno. Quando um bebê nasce no local, a equipe de fonoaudiologia é acionada e é realizado o testes da linguinha, além de orientações individuais sobre amamentação para as mães. Em caso de identificação de alteração no freio lingual, é feita a frenotomia pela odontóloga, antes mesmo da alta hospitalar, e logo é aplicado um laser de baixa potência, o que otimiza a recuperação do recém-nascido. O processo permite rastrear alterações do frênulo lingual que possam interferir na sucção, mastigação, deglutição e na fala, e está entre as medidas adotadas para combater o desmame precoce.



Promoção da Saúde

Entre as mudanças nos procedimentos adotados antes da alta hospitalar, foi firmada a pactuação entre o setor de fonoaudiologia e demais integrantes da equipe de profissionais do hospital para estimular a amamentação exclusiva. De agosto a dezembro de 2021, foram realizados 72 partos. Destes, 54 puérperas foram contempladas com as ações.

Seguindo as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), não é oferecido ao recém nascido nenhum outro alimento além do leite materno, com exceção dos casos em que há indicação clínica. Mamadeiras e chupetas, por sua vez, também são desaconselhadas.

Pôr em prática a iniciativa em meio aos cuidados demandados pela pandemia foi um dos desafios da equipe. “O cenário pandêmico exigiu dos profissionais uma força-tarefa, realmente tomando muito cuidado porque se tratava de recém-nascidos e a única informação concreta que a gente tinha naquele momento é que o aleitamento materno continuava sendo o melhor alimento”, destaca a fonoaudióloga Ada Kelle Costa e Silva, que atua no Hospital Municipal de Pontalina desde 2006 e foi responsável pela implantação do projeto.

Ada destaca os fatores que interferem na qualidade do aleitamento materno. “Envolve tanto a questão do planejamento e ações de educação permanente mais consistentes, voltadas para as gestantes puérperas e seus familiares, mas também está muito relacionado ao avanço da indústria de mamadeira, chupeta, fórmulas. Então existem muitos aspectos culturais envolvidos nesse processo”, aponta a fonoaudióloga.

Política Intersetorial

Mas o estímulo à amamentação não se restringe ao ambiente da Saúde. Em parceria com a Secretaria de Ação Social da cidade, foram doadas almofadas de amamentação para tornar o processo mais ergonômico e confortável para mães e bebês. E, como forma de engajar ainda mais as famílias na causa do aleitamento materno, uma iniciativa conjunta com a Secretaria de Meio Ambiente presenteou-as com mudas de árvores. Entre os meses de setembro a dezembro de 2022, foram distribuídas 35 mudas.

“Foi também realizado um contrato fictício, carimbado pelo pé do recém-nascido, onde a gente confirma esse compromisso familiar com a amamentação e o com o plantio daquela muda de árvore, contribuindo assim para um planeta saudável e sustentável. A gente observou que todos os pais ficaram emocionados com a iniciativa e se comprometeram a plantar a muda, então foi muito emocionante, muito legal”, avalia Ada.

A consolidação do projeto, por meio de todas essas ações conjuntas, é evidente, e os números mostram isso. Nos 12 meses de 2022, foram realizados 149 partos de residentes dos municípios de Pontalina, Edealina, Cromínia e Mairipotaba, com o acompanhamento de 102 puérperas para aleitamento materno. Em 103 casos, os recém-nascidos receberam teste da linguinha, que identificou 24 alterações de frênulo lingual. Para Ada, porém, o maior impacto dessas ações tem sido confirmar a importância da amamentação. “Ela realmente contribui de forma efetiva para a sustentabilidade ambiental, para a segurança alimentar e nutricional e mostra que é o melhor e mais barato investimento para salvar vidas”, conclui a fonoaudióloga.