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20/11/2020

Dia da Consciência Negra: fortalecer o SUS é uma iniciativa antirracista

20/11/2020 14h03 - Atualizada em 20/11/2020 14h03

No dia 20 de novembro é celebrado o Dia Nacional da Consciência Negra, data escolhida por marcar a morte de Zumbi dos Palmares, um dos maiores símbolos de resistência e luta contra a escravidão. O data representa um marco de reflexão sobre a contribuições e importância do povo e cultura africana no Brasil, mas também é uma oportunidade para se reconhecer as desigualdades vivenciadas por essa população em todas as instâncias sociais, políticas e culturais, bem como para propor medidas concretas que promovam sua inclusão e combatam todas as formas de racismo. 

A Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, instituída em 2009, é um compromisso firmado pelo Ministério da Saúde no combate às desigualdades no SUS e na promoção da saúde da população negra de forma integral, considerando que as iniquidades em saúde são “resultados de injustos processos socioeconômicos e culturais”. Em 2017, foi lançada a 3ª edição do documento sobre essa Política, destacando a necessidade dos gestores, movimentos sociais, conselheiros e profissionais do SUS trabalharem em prol da melhoria das condições de saúde da população negra, a partir do reconhecimento do racismo como determinante social em saúde. A publicação reafirma as “responsabilidades de cada esfera de gestão do SUS – governo federal, estadual e municipal – na efetivação das ações e na articulação com outros setores do governo e da sociedade civil, para garantir o acesso da população negra a ações e serviços de saúde, de forma oportuna e humanizada”. (Confira aqui a publicação na íntegra

Brasil, aqui tem SUS

O trabalho do bairro Perus, no município de São Paulo, reúne jovens da periferia em grupos de dança break, da cultura hip hop. Além da dança, a experiência promoveu palestras com abordagens diferenciadas em todas as escolas da região. Com a ideia de trazer a saúde e o cuidado com uma outra pespectiva e dar possibilidade de empoderamento para os adolescentes, o projeto mudou a realidade do bairro, que tem um dos maiores índices de violencia contra jovens negros. 

Segundo a professora que colaborou com a experiência em parceria com a secretaria municipal de saúde, Karina Moraes, a metodologia das palestras conseguiu alcançar os jovens de uma maneira muito interessante. “As palestras usaram uma linguagem próxima do universo deles, bem diferente da linguagem panfletária dos postos de saúde”. Nos debates promovidos, a equipe de saúde e os professores utilizaram as referências jovens de ídolos negros, como Usain Bolt, multicampeão olímpico, Anderson Silva, famoso campeão de luta livre, vocalistas de bandas, jogadores de futebol, além de intelectuais e políticos que marcaram a história do Brasil e do mundo. 

Questões relacionadas às drogas também foram discutidas, porém, com uma perspectiva diferente do comum. “Relacionamos esse tema com oportunidade de escolha, a importância da liberdade de ir e vir e caminhos que podem ser traçados, sempre colocando a auto estima deles lá encima para conseguirem seguir, mesmo com os desafios e dificuldades”. Segundo ela, essas atividades e as oficinas de dança hip hop e break, que resgatam referências negras, foram extremamente importantes para os jovens e reverberou na vida deles como um todo.  “É muito importante para esses jovens que lidam diariamente com a difícil realidade de Perus, que é o lugar com os maiores indices de violência contra a criança, contra a mulher contra os jovens negros, de toda a região do estado. Acredito que as ações que vão na contramão dessa opressão, valorizando a qualidade de vida desses jovens é muito significativo e potente”. 

Assista ao Webdoc Brasil, aqui tem SUS – Perus-SP: 

A experiência exitosa da Secretaria Municipal de Saúde de Porto Firme-MG visa diminuir as internações de pacientes psiquiátricos a partir de visitas domiciliares nas zonas urbana e rural do município. Cerca de 50 usuários recebem visitas quinzenais da equipe multidisciplinar. Uma das pacientes do projeto é Juliana Lourenço, mulher negra entrevistada durante o documentário de registro do projeto. “Eu descobri depressão quando eu tinha 15 anos, mas não tinha médico que dissesse isso, achavam que era droga ou alguma coisa assim. Na minha época não existia esse negócio de beleza natural, com 12 anos eu sofria bullying por causa do cabelo e da cor da pele na escola, as pessoas colocaram um apelido muito maldoso em mim. Só agora, há pouco tempo, eu entendi que isso é racismo”. 

De acordo com dados do Ministério da Saúde, jovens negros tem maior chance de cometer suicídio no Brasil. O risco, na faixa etária de 10 a 29 anos, é 45% maior entre jovens que se declaram pretos e pardos do que entre brancos. Juliana conta que, por conta do preconceito que sofria, começou a se isolar de várias formas. “Tentei o suicídio várias vezes, na ultima tentativa eu cortei os pulsos e o pescoço e acabei sendo internada. Hoje eu vejo que era pela total falta de autoestima. Acho que as pessoas não devem se calar diante do racismo, eu conto minha história para todo mundo que pergunta, porque eu sinto que é importante e hoje eu me assumi do jeito que eu sou”. 

Assista ao Webdoc Brasil, aqui tem SUS – Porto Firme-MG