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09/12/2025

VACINABAE: A Travessia da Vacinação em Territórios Quilombolas do Amazonas

09/12/2025 17h17

Por Estefany Bonifácio de Oliveira Supervisionada por Maria Luiza Diniz

No município de Barreiras, no Amazonas, o projeto “VACINABAE: vacinar-se é uma ato de resistência: ações e estratégias de imunização para o programa Previne Brasil em área quilombola em um município do estado do Amazonas.” Permitiu ampliar o acesso à vacinação entre comunidades quilombolas, indígenas e ribeirinhas.

A experiência bem-sucedida é tema do quinto episódio da 2ª temporada de webdocumentários do Projeto ImunizaSUS.

Situadas às margens do rio Amazonas e no coração de territórios quilombolas, essas comunidades carregam uma diversidade cultural tão antiga quanto viva. São povos marcados pela oralidade, pela resistência e por saberes tradicionais. Nesse território compartilhado, ribeirinhos, indígenas e quilombolas convivem lado a lado, cada um com sua própria visão de mundo. Quando a ciência ocidental chega, especialmente na forma de uma seringa, o estranhamento, muitas vezes, é inevitável.

A jornada do projeto se torna, então, mais do que uma ação de saúde: é um processo de escuta, respeito e construção de confiança. Uma travessia entre mundos, em que a ciência caminha com “pés descalços”, guiada pelas vozes da própria comunidade.

De acordo com o IBGE, o município ribeirinho tem cerca de 32 mil habitantes, dos quais aproximadamente 2.300 são quilombolas. Foi justamente entre esses grupos que se encontravam alguns dos menores índices de vacinação do território. Em especial entre quilombolas, havia desconfiança sobre a eficácia e a funcionalidade das vacinas. 

A moradora da comunidade quilombola e usuária do sus relatou as crenças de seus avós sobre a vacina “tempo dos meus avós tinham medo e falavam que as vacinas matavam as pessoas”.

Alisson Gonçalves, enfermeiro e autor do projeto, explica que a pandemia acendeu um alerta. Ele conta que “com o apogeu da covid nós percebemos que as vacinas precisavam chegar mais rápido dentro dos territórios”.

Mas chegar aos territórios nem sempre é simples. Em uma região onde as estradas são rios, a técnica de enfermagem Miriam Freitas relata que fatores ambientais dificultam o deslocamento. “Às vezes a nossa embarcação não chega no porto da comunidade então nós temos que pegar canoa, o período da enchente também é muito dificultoso, às vezes nos chegamos nas comunidades onde elas estão submersas.”

Além das barreiras geográficas, há também desafios culturais. A crença em curandeiros, pajés, rezas e usos de folhas medicinais faz parte da construção de cuidado dessas populações. O enfermeiro destaca como esses saberes podem dialogar com o conhecimento científico, fortalecendo o processo de Imunização.

Outra estratégia fundamental destacada pelo enfermeiro foi observar as dinâmicas sociais das comunidades para garantir que todos participassem por meio de atividades voltadas às escolas da região. “Nós criamos pequenas oficinas com as crianças onde elas eram ensinadas tanto da importância da vacinação, da carteirinha de vacinação como também da importância da participação deles como saúde.” disse o enfermeiro Alisson Gonçalves.

O projeto contou ainda com equipes multiprofissionais de saúde inteiramente quilombolas, implantadas em polos específicos do território, o que fortaleceu a confiança local e consolidou o acesso à imunização.

O novo episódio estreia nesta terça-feira (09/12), às 18h. Assista na programação da TV Mais Conasems e no canal do YouTube: