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27/01/2023

Reportagem especial "Mostra Brasil aqui tem SUS: Vacinação contra a Covid-19 em Assis - quando a inteligência se une à ação

27/01/2023 12h25

Quando as primeiras doses da vacina contra a Covid-19 chegaram ao município de Assis, no interior de São Paulo, montou-se uma operação de guerra que perdurou até que grande parte da população fosse imunizada. Para não desperdiçar nenhum imunizante, muitas vezes os profissionais partiam numa corrida contra o tempo, fazendo busca ativa dos faltosos ou do grupo prioritário de acordo com as regras estabelecidas na Política Nacional de Imunização (PNI).

No processo de reorganização da Atenção Básica (AB), profissionais foram escalados para entrar na linha de frente contra o vírus, independente das suas funções habituais. A máxima que movia as equipes era vacinar o maior número de pessoas no menor espaço de tempo. “Para nós, naquele momento, não importava a nossa formação. Trabalhávamos na organização dos pontos de vacinação, na distribuição das vacinas, na busca ativa dos faltosos. O trabalho feito a muitas mãos nos aproximou, sobretudo porque estávamos levando esperança para as pessoas”, afirma a fisioterapeuta Camila de Moraes Delchiaro, coordenadora de Programas e Projetos das AB.  

Camila compôs uma equipe de coordenação do processo de vacinação, responsável pela organização de toda a logística, juntamente com outros profissionais que atuavam no Departamento da Atenção Básica, na Vigilância Epidemiológica e na área de Tecnologia da Informação. O anúncio da Secretaria Estadual de Saúde de que iria chegar vacina era o indicativo de que estava na hora de montar a estrutura para, no dia seguinte, receber centenas de pessoas no drive-thru no Parque de Exposições.

No início, diante da insuficiência de vacinas, o esquema era organizado de forma centralizada. Mas quando se chegou à população de 18 anos, a oferta do imunizante já havia aumentado, o que permitiu articular grandes ações de vacinação em drive-thru e também em unidades de saúde do município. A população acessava o serviço por meio de um esquema de comunicação centrado nas redes sociais.

“Recebemos uma pessoa que trabalha com comunicação para fazer uma agenda positiva do SUS e dos serviços, a partir da ideia de que saúde não é para quem chega primeiro, mas para quem precisa mais. Começamos a interagir por meio das redes sociais e do rádio e diariamente o jornalista publicisava os pontos de vacina, as unidades disponíveis, a faixa etária. Elaboramos também uma caixinha de perguntas nas redes sociais para que os técnicos tirassem as dúvidas mais frequentes, o que funcionou muito bem”, detalha Camila.

No entanto, segundo a fisioterapeuta, nem sempre a comunicação pôde ser eficiente no esclarecimento da população. Divergências de orientação do Governo do Estado e do Governo Federal, divulgadas por meio de notas técnicas, confundiu a população em algumas situações. Um exemplo foi a definição de quem eram os profissionais de saúde que estavam incluídos no grupo prioritário: todos ou somente aqueles na linha de frente? Outra dúvida que gerou desgaste entre moradores e profissionais que atuavam na imunização, na fase inicial, foi a classificação das comorbidades. Problemas que foram sendo sanados na medida em que mais imunizantes eram disponibilizados.

Para Camila, que atua há mais de 15 anos no Sistema Único de Saúde (SUS), a experiência foi marcante sobretudo pelo compromisso com o retorno a uma vida normal. Ela conta que o momento era de muita emoção para quem vacinava e quem era vacinado. Chorava a filha que recebeu a vacina após perder o pai pela Covid-19 e chorava a equipe pela emoção da usuária. “O que me fazia levantar da cama todos os dias era saber que iria fazer a diferença na vida das pessoas”, recorda.





Inteligência de Gestão

O município de Assis, de aproximadamente 105 mil habitantes, tem sua economia baseada no comércio e na presença de um grande contingente de universitários, que foram muito afetados na pandemia. A corrida em torno da aceleração da vacina foi fundamentada não só pelas pesquisas em âmbito internacional, que atestavam sua eficácia, como também pela análise das informações produzidas no município.

A comparação entre os indicadores da cobertura vacinal e os dados compilados no boletim diário da Covid-19 - que traziam informações sobre o número de óbitos, os casos positivos, encerrados e a quantidade de internados - não deixava dúvidas de que o avanço da vacina se traduzia diretamente na redução do agravamento da doença no município. A leitura das informações também permitia direcionar as ações de acordo com as necessidades.

“A gente tentou todas as estratégias possíveis para vacinar o maior número de pessoas”, conta Camila. Ela recorda que as equipes observaram um avanço lento na vacinação do público entre 20 e 30 anos e uma das hipóteses era a dificuldade de se deslocar dos postos de trabalho. Foi então criada a estratégia de divulgação das empresas amigas da vacina, que passaram a procurar os serviços de saúde para solicitar a presença dos profissionais, de acordo com o número de trabalhadores aptos a se vacinar.

Se o retorno das aulas presenciais na rede pública se aproximava, o foco era levar informações sobre condutas preventivas aos educadores. Quando o direito ao imunizante chegou à população infantojuvenil, os profissionais se dirigiram às escolas estaduais e vacinaram todas as crianças que tinham autorização dos pais, evitando o deslocamento ao posto de saúde. Campanhas de estimulação desse público, com paródias e entrega do certificado de coragem, foram desenvolvidas.

O vice-diretor da Escola Estadual Professora Francisca Ribeiro Mello Fernandes, Márcio Vieira Lemi, reconhece a importância da ação intersetorial entre saúde e educação. Na sua escola, que reúne alunos de 11 à 17 anos em tempo integral, a presença dos profissionais de saúde, aliada ao trabalho de conscientização dos professores, foi fundamental para reverter a rejeição à vacina como consequência da desinformação. “Essa parceria com a Saúde foi de extrema importância porque possibilitou uma maior imunização dos alunos, funcionários e professores. Eu mesmo tomei a segunda dose na escola”, afirma.

Os sinais de rejeição à vacina foram desaparecendo, o que levou à imunização de quase todo contingente da escola e a redução significativa do número de casos. A ação também teve um efeito multiplicador que ultrapassou os muros da instituição. “O maior difusor de informações são os alunos. Se trabalharmos bem a conscientização deles, vai reverberar nas famílias. Não há outro caminho que não seja a vacina. A imunização faz a diferença!”, conclui o educador.



Brasil, aqui tem SUS 

Esta experiência foi uma das premiadas durante a 17ª Mostra Brasil, aqui tem SUS, realizada durante o XXXVI Congresso Conasems em julho de 2022 na cidade de Campo Grande-MS. Acompanhe quinzenalmente a publicação de reportagens especiais sobre as premiadas por categoria no site do Conasems.