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28/04/2023

Reportagem especial - MonitorArbo: projeto de combate às arboviroses em Parnamirim vai além do monitoramento de focos

28/04/2023 09h58

Todo ano é a mesma coisa: o verão chega e, com ele, as arboviroses – aquelas doenças causadas por transmissão viral a partir de mosquitos como o Aedes Aegypti. As mais comuns nas cidades brasileiras são Dengue, Chikungunya e Zika. Mas, se essas patologias e seu principal transmissor já são mais do que conhecidos, como é possível aprimorar o combate desse velho problema?

A resposta pode estar na adoção de uma estratégia mais eficiente de monitoramento dos focos. Em Parnamirim, cidade da região metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte, o projeto MonitorArbo, implantado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em 2021, tem tido resultados efetivos. Em 2022, foram retirados de circulação mais de 158 mil vetores das arboviroses no município.

A iniciativa funciona a partir do cruzamento de informações sobre a presença dos insetos e de casos de arboviroses entre a população de uma determinada área. Os dados são coletados pelos Agentes de Combate às Endemias (ACE) nas residências e estabelecimentos comerciais, semanalmente, com as chamadas ovitrampas, espécies de armadilhas instaladas pelo município nesses locais. Hoje, até a base aérea de Parnamirim conta com ovitrampas. Em toda a cidade, que possui cerca de 130 mil imóveis, são 175 áreas monitoradas por semana.

“A gente tinha um cenário meio mecânico nos trabalhos. Os agentes de endemias indo casa a casa, produzindo uma informação, mas sem ter os dados sobre a doença. A gente viu que tinha de acompanhar mais de perto”, analisa o diretor do Departamento de Vigilância em Saúde de Parnamirim e agente de combate às endemias, Kleyton Araújo, de 35 anos. Há 14 anos atuando na SMS, ele participou da implantação do MonitorArbo no município. O projeto começou a ser articulado nos últimos dois anos, mas o gestor lembra que ainda em 2011, quando a Fiocruz em conjunto com o Ministério da Saúde escolheu a cidade para testar as ovitrampas, já havia o desejo da implementação.

Segundo Kleyton, a principal diferença do LIRAa para o MonitorArbo é que, por meio deste, tem-se uma fonte de informação sobre a presença do vetor quatro vezes ao mês em vez de quatro vezes ao ano. Além disso, com a utilização de uma ferramenta gratuita que permite a junção e a tabulação dos dados epidemiológicos, o QGIS, é possível fazer também o georreferenciamento. Isso permite que a Secretaria atue de forma mais ágil e precisa, inclusive incluindo outros órgãos municipais, como os de meio ambiente e limpeza, se for preciso.

“Com o cruzamento dos dados, se pensa nas ações de enfrentamento das arboviroses com trabalhos educativos ou com os próprios agentes entrando naquela área. Por exemplo, às vezes, sabendo que uma área estava com muitos casos, a gente fazia um trabalho com as escolas do bairro para trazer a população para trabalhar junto com a gente”, explica o diretor.

Relação com a comunidade

A parceria com os moradores tem sido mesmo fundamental para o trabalho. De acordo com o agente de endemias Francisco José de Moraes Oliveira, mais conhecido como Neto, de 37 anos, a receptividade tem sido boa. Ele é um dos 25 agentes envolvidos apenas no levantamento das informações por meio das ovitrampas. Ao todo, Parnamirim conta com uma equipe de 153 agentes de combate às endemias.

De acordo com Neto, o primeiro passo para a instalação das ovitrampas é fazer o levantamento entomológico da área, escolher o local para a armadilha e explicar aos proprietários dos imóveis sobre o projeto, num trabalho que também é de educação em saúde. Cada ovitrampa cobre uma área com um raio de 300 metros, conforme estabelece o Ministério da Saúde.

Ao demonstrar a importância do monitoramento e o quanto isso pode beneficiar toda a vizinhança, os proprietários assinam um termo de ciência e passam a receber a visita periódica do profissional. “A ovitrampa é uma vazilha com água e tem uma palheta de eucatex numerada. Toda semana, a gente recolhe a palheta e leva pro laboratório que avalia a quantidade de ovos. A partir disso, eles cruzam os dados para ver se tem algum caso de dengue, por exemplo. Se aquela armadilha der uma densidade alta de ovos, e lá tiver algum caso positivo, vai ser mandada outra equipe de endemias para reforçar o combate naquela área”, explica o agente.

Responsável pela área do litoral de Parnamirim, que inclui as praias de Pirangi do Norte, Cotovelo e Pium, Neto acompanha ao todo 26 ovitrampas. “Eu acho que hoje as pessoas estão mais conscientes. A gente sempre tem conversado com os moradores, explicando sobre as doenças. Os casos de dengue dependem de muitos fatores, mas quando a gente vai fazer o trabalho nesses locais em que está alto o índice, a gente percebe que em duas semanas já zera, dá baixo, através da eliminação dos focos”, ele avalia.

Durante a pandemia de Covid-19, conta Kleyton, a ferramenta ajudou bastante. “Ao invés de entrar em todas as casas, já que as pessoas resistiam, a gente ia em casas específicas. A equipe criou uma relação com os donos dos imóveis, eles ficaram mais atentos. A gente dizia que se colocasse a ovitrampa na casa, no comércio, conseguia ver a área ao redor da casa, então as pessoas colaboravam”.

No último surto de arboviroses do Estado, o diretor destaca que no município a duração foi a menor entre os municípios da Região Metropolitana da Grande Natal, justamente porque, por meio do MonitorArbo, a SMS sabia onde fazer as ações de combate o mais rápido possível. Isto é, mesmo sendo uma metodologia específica de monitoramento, ela tem contribuído para a retirada efetiva dos focos e, consequentemente, tem ajudado na diminuição dos casos.

Para Kleyton, esse tipo de estratégia de combate às arboviroses é vital para o serviço de saúde brasileiro. “A gente não pode parar no tempo, temos de continuar procurando estratégias e metodologias para enfrentar essas doenças de igual para igual”, finaliza.