20/05/2019
Brasil realiza primeiro inquérito domiciliar sobre alimentação e nutrição infantil
20/05/2019 10h29 - Atualizada em 20/05/2019 10h29
Pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde avaliará estatura, peso e exames de sangue de crianças de até cinco anos em todo país
O Brasil inicia em 20 de maio o terceiro ciclo do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), no Paraná e Mato Grosso. O inquérito, inédito no país, coletará informações detalhadas sobre hábitos alimentares, peso e altura de crianças de até cinco anos e realizará exame de sangue nos participantes com mais de seis meses de vida. Pela primeira vez, dados sobre o crescimento e o desenvolvimento infantil e o mapeamento sanguíneo de 14 micronutrientes, como os minerais zinco e selênio e vitaminas do complexo B, serão estudados em todo o território nacional. Informações sobre amamentação, doação de leite humano, consumo de suplementos de vitaminas e minerais, habilidades culinárias, ambiente alimentar e condições sociais da família também serão investigadas.
O coordenador nacional do Enani, Gilberto Kac, acredita que um inquérito tão completo como este trará informações novas sobre alimentação infantil e sobre o perfil de deficiência de vitaminas e minerais e auxiliará na elaboração de políticas públicas na área de saúde e nutrição no futuro. “Os dados sobre estado nutricional antropométrico poderão ajudar a responder, por exemplo, se a desnutrição está realmente diminuindo como um problema epidemiológico. Por outro lado o estudo deverá corroborar a acertada definição do Ministério da Saúde em indicar a prevenção da obesidade com prioridade em sua agenda”, pondera.
Serão estudados 15 mil domicílios em 123 municípios de todo o país. O Enani percorreu, desde março, 5.090 casas no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina e Distrito Federal, nas duas primeiras fases da pesquisa. Agora será iniciado o terceiro ciclo, no Mato Grosso e no Paraná, de maio a julho. Até o fim do ano, todos os estados brasileiros receberão os pesquisadores de campo. Acre, Amazonas, Rondônia, Roraima e Tocantins em junho e julho; Goiás e São Paulo em agosto e setembro; Ceará, Maranhão e Piauí de agosto a outubro; Amapá e Pará em setembro e outubro; e Alagoas, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe de setembro a novembro.
Encomendada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa é realizada com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e é coordenada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Também participam da coordenação a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ao todo, a iniciativa conta com a participação de 60 pesquisadores de 22 instituições acadêmicas públicas e privadas de todas as regiões do país.
Exames bioquímicos
Os exames laboratoriais realizados são hemograma completo e marcadores bioquímicos que permitam qualificar a anemia e medir, além do ferro e a ferritina, marcadores de inflamação tais como a proteína C reativa, as vitaminas do complexo B, minerais como zinco e selênio e micronutrientes com papel importante no organismo. Também será armazenada em um biorrepositório uma parcela do sangue para análises posteriores sobre marcadores genéticos e o perfil metabólico.
Gilberto explica que a coleta de sangue para análise é um dos principais diferenciais do estudo, permitindo a obtenção de dados inéditos. “Vamos investigar como certos micronutrientes como as vitaminas do complexo B, o zinco e o selênio podem estar relacionados com o desenvolvimento cognitivo e o déficit de crescimento. Atualmente, temos poucos dados sobre a avaliação do estado nutricional bioquímico. O que há disponível são estudos sobre anemia e carência de vitamina A. Não temos nenhum dado de âmbito nacional para vários dos marcadores que serão estudados”, destaca o pesquisador.
Os resultados dos exames serão entregues para as famílias e, em caso de desnutrição, obesidade ou deficiência de micronutrientes, os participantes do estudo serão encaminhados para unidades de saúde próximas às suas casas.
Mães
As medidas de peso e altura das mães também são coletadas. A pesquisa ainda engloba perguntas sobre licença maternidade e história reprodutiva. “As informações sobre as mães são importantes para auxiliar na compreensão do estado nutricional infantil, visto que elas são as principais responsáveis pelo cuidado dos filhos. Esperamos conseguir entender alguns dos determinantes da interrupção precoce da amamentação e da introdução precoce de alimentos de baixa qualidade, como os ultraprocessados. Tudo isso é importante para a saúde da família e, sobretudo, da criança”, conta Kac.
Segurança
As visitas domiciliares são realizadas por pesquisadores identificados com camisa e crachá contendo o nome e a fotografia do entrevistador, além do logotipo do Ministério da Saúde. Os dados informados são sigilosos e, em hipótese alguma, os nomes das crianças ou dos seus responsáveis serão identificados. A participação dos indivíduos é voluntária. No início da pesquisa, o entrevistador explica todos os procedimentos e entrega aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Esse documento informa sobre todos os detalhes do estudo e orienta como o selecionado pode entrar em contato com a central do estudo para tirar quaisquer dúvidas que surjam, incluindo a opção gratuita de ligar para o número 0800 808 0990. A realização da pesquisa segue rigorosa metodologia científica e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFRJ.
Metodologia
A metodologia utilizada segue o padrão internacional mais qualificado e atual. A amostra foi calculada para ser representativa por macrorregião, idade e sexo. Um procedimento chamado “amostragem inversa” garante três mil domicílios pesquisados para cada uma das macrorregiões. “A preocupação com a qualidade da obtenção das medidas e entrevistas é muito grande. Todos os entrevistadores, supervisores e coordenadores participam de treinamentos locais, com foco no rigor científico e na obtenção de dados de qualidade”, informa Kac.
A Sociedade para o Desenvolvimento da Pesquisa Científica (Science) realizou a amostragem dos domicílios e é responsável por coordenar as 342 equipes que vão a campo em todo território nacional para coleta de dados. A coleta de sangue é feita pelo laboratório Diagnósticos do Brasil e parceiros com perfil adequado à coleta de sangue de menores de cinco anos. As amostras de sangue são cuidadosamente coletadas, transportadas e analisadas.
Para garantir a qualidade e a segurança das informações obtidas, dois aplicativos são utilizados: um para a obtenção dos dados do recordatório alimentar de 24 horas e outro para a captura dos dados por meio de um dispositivo móvel de coleta. Os dois sistemas foram exaustivamente testados e envolvem uma série de controles de qualidade. Os questionários aplicados e os indicadores a serem construídos permitirão não só a comparação dos resultados do Enani com os de inquéritos nacionais e internacionais, mas também oferecerão informações inéditas sobre alimentação e nutrição das crianças brasileiras.
Confira o vídeo: