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Atenção Básica

24/10/2019

Menina do Laço de Fita: atenção básica e garantia de direitos

24/10/2019 16h24 - Atualizada em 24/10/2019 16h24

Durante o Outubro Rosa diversas ações focadas no combate ao câncer de mama foram promovidas pelos municípios. Em Abaetetuba-PA, os serviços foram ampliados contemplando a saúde da mulher e a atenção básica como um todo

O projeto “Menina do Laço de Fita”, da Secretaria Municipal de Saúde de Abaetetuba-PA, começou em 2017, com serviços voltados para meninas de 10 a 19 anos e, a partir daí, conseguiu reorganizar toda a atenção básica do município. Hoje, o trabalho foi ampliado e contempla tanto meninas e mulheres, quanto homens adolescentes, adultos e idosos. Os temas que antes tinham foco em direitos sexuais e reprodutivos, no decorrer dos últimos dois anos, se transformaram em uma enorme gama de serviços, desde câncer de colo de útero e contraceptivos até alimentação saudável e clube de leitura para idosos.

“No início, como a gente não tinha perspectiva de aumentar o número de UBS, pensamos em possibilidades para transformá-las em unidades mais resolutivas. Resolvemos começar focando nas questões de gênero, que estavam muito latentes no município”, comentou a secretária municipal de saúde de Abaetetuba, Lucilene Ribeiro. De acordo com ela, no primeiro momento o trabalho foi específico com meninas para promover o debate sobre sexualidade, identidade de gênero, relacionamentos, bullying, futuro, perspectivas, depois o projeto foi ampliado para mulheres, com discussões sobre direitos sexuais e reprodutivos, como uso de anticoncepcionais, DIU, laqueadura, planejamento familiar e violência doméstica.

Segundo a coordenadora da Atenção Básica e autora do projeto, Kellen da Costa, para trabalhar esses temas de forma eficiente foi preciso ampliar as abordagens. “Inserimos outros serviços como rodas de conversa com homens, ampliamos as temáticas com as mulheres trazendo discussões sobre problemas relacionados a saúde mental, ansiedade e depressão, ou seja, começamos com uma abordagem específica, mas trabalhando com parcerias, capacitações e galgando espaços, a gente chegou nesse momento, onde o projeto Menina do Laço de Fita representa hoje a garantia do acesso a todos os serviços relacionados a atenção básica no município”.

Kellen da Costa, autora do projeto, em roda de conversa com mulheres ribeirinhas durante visita da UBS Fluvial

Outubro Rosa

Em relação às ações específicas de combate ao câncer de mama, o projeto promoveu uma série de rodas de conversa sobre autoexame, reunindo mais de 100 mulheres em um mutirão nas comunidades ribeirinhas e quilombolas. Segundo Kellen “muitas delas querem um mamógrafo, alta complexidade, consultas com especialistas, mas nós, profissionais da atenção básica, precisamos mostrar que existem outras formas de diagnóstico, o autoexame de toque é muito eficiente e simples, nessas rodas ainda aproveitamos a oportunidade para falar sobre a relação delas com próprio corpo, o cuidado que elas devem ter com elas mesmas apesar da família, do marido, dos filhos”.

“A saúde é um direito, mas como esse direito está chegando as pessoas? Você pode ter uma UBS linda e equipada, se as pessoas não chegam até lá, nada disso adianta. Se eu ficar presa no meu consultório, sentada em uma cadeira, a ideia da atenção primaria vai por água abaixo. É necessário estar onde a comunidade está, o profissional tem que trabalhar ao lado do usuário, no mesmo nível de conhecimento e de troca, porque a partir desse momento você co-responsabiliza a saúde, construindo o cuidado de forma conjunta. Eu como mulher negra, ribeirinha e como profissional de saúde acredito que é possível transformar a realidade pela atenção básica, estamos falando em saúde pública e coletiva com uma noção real de coletividade”.

Segundo ela, a ideia do projeto e do fortalecimento da atenção básica é criar um movimento contrário, não tratando a saúde como mercadoria e o paciente como um número. “Estamos tentando resgatar o que em algum momento se perdeu. Cuido de uma mulher gestante com uma menina na barriga, depois cuido dessa menina na primeira infância, na adolescência, na gestação, na velhice… o cuidado promovido pela atenção básica é um ciclo complexo e maravilhoso, isso é o SUS vivo e promovendo vida”.

Brasil, aqui tem SUS

O projeto “Menina do Laço de Fita” foi premiado na 16ª Mostra Brasil, aqui tem SUS em 2019 como a melhor experiência da região Norte. Os trabalhos premiados por região estão sendo registrados em reportagens e fotografias para compor uma edição especial da Revista Conasems, que será lançada durante o 36º Congresso, em julho de 2020. Além de Abaetetuba-PA, os municípios premiados foram Curitiba-PR, Campinas-SP, Castelo do Piauí-PI e Várzea Grande-MT.