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09/06/2022

Questão de Saúde: De onde vieram as vacinas?

09/06/2022 16h08 - Atualizada em 09/06/2022 16h08

A história da vacinação teve início no século XVIII quando a varíola era a maior ameaça da humanidade. Naquela época, Edward Jenner foi responsável pelo experimento que mostrou que ao inocular uma secreção de uma pessoa com a doença em outra pessoa saudável esta desenvolvia sintomas muito mais leves e se tornava imune. Quase oitenta anos depois, a história do desenvolvimento das vacinas ganhou forças com as pesquisas de Louis Pasteur. Mas quando a vacinação ganhou força no Brasil?

Para recontar a história da vacinação no país, o Conasems, por meio do Projeto ImunizaSUS, em parceria com o Ministério da Saúde, lançou a série documental “Questão de Saúde” sobre a história da vacinação no Brasil. São 5 episódios com cerca de 10 minutos cada, que retratam o caminho da vacina no nosso país. Confira a playlist clicando aqui. 

O primeiro episódio da série Questão de Saúde relembra a criação da vacina e o caminho que a vacinação tomou para se tornar uma paixão nacional.

No ano de 1887, um jovem brasileiro chamado Oswaldo Cruz estudou no Instituto Louis Pasteur e voltou para o Brasil focado em aplicar o que aprendeu em terras francesas. Com isso, aconteceu uma mudança fundamental no sanitarismo no Brasil nos anos seguintes. Cruz dedicou-se a garantir a fabricação de medicamentos, no desenvolvimento de pesquisas e na formação de novos sanitaristas qualificados.

“Lá no início do século, quando se criou o Instituto Soroterápico de Manguinhos e o Instituto Butantã em São Paulo essas instituições eram pequenos institutos pra estudo científico e produção de vacinas. Esse processo se deu historicamente, essas instituições tanto no âmbito da produção, como na formação de quadros de saúde pública, são fundamentais para o desenvolvimento do país”, conta o pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz Luiz Antônio Teixeira.

As pesquisas e intervenções de Oswaldo Cruz mudaram para sempre os paradigmas da saúde brasileira. No entanto, nos anos seguintes, ele teria de enfrentar um desafio que não havia previsto.

Em 1904, uma grande epidemia de varíola assolou o Rio de Janeiro. Oswaldo Cruz, que então coordenava a Diretoria Geral de Saúde Pública, encaminhou ao Congresso Nacional uma lei que exigia a obrigatoriedade da vacinação contra a doença.

No dia 4 de novembro de 1904 revoltosos armaram barricadas e entraram em diversos conflitos com a polícia carioca contra a vacinação obrigatória. O episódio ficou conhecido como a Revolta da Vacina.

“No Rio de Janeiro era um momento de desenvolvimento relacionado ao comércio, em especial para as elites. Nesse momento houve o intuito de transformar o Rio de Janeiro e essa urbanização expulsou da cidade um conjunto muito grande de trabalhadores, de pessoas que de uma hora para outra ficaram sem ter residência e sem condição de vida e trabalho”, conta Luiz Antônio.

“E essas pessoas foram para os morros, surgindo as favelas. Então isso já dava um clima de descontentamento contra essas medidas. Não se pedia autorização, se entrava nas casas para verificar se tinham criadores de Aedes, a questão dos ratos, porque tinha a questão da peste bubônica, etc. Então, com isso, você estava em um clima das pessoas contra essas imposições porque não eram explicadas”, relembra o professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo José Cássio de Moraes.

A Revolta da Vacina e mesmo outras epidemias que ocorreram no século XX, mostraram a necessidade de levar informação para a população. Com isso, após uma longa trajetória de campanhas de comunicação sobre a erradicação da varíola, o brasileiro transformou o dia de se imunizar em uma grande festa.

“Sessenta anos depois da revolta, a população, em vez de fazer barricadas, não só saiu de suas casas como formou filas e aglomerou-se em praças públicas para ser vacinada” disse o pesquisador da Fiocruz Gilberto Hochman

Fazer com que os imunizantes chegassem até as pessoas e que elas confiassem na vacina foram desafios imensos, que enfrentamos ainda hoje. A decisão do estado de vacinar em massa e a decisão da sociedade de levar as crianças para vacinar tornou possível o alcance da população, erradicando doenças como a varíola, poliomielite, meningite, sarampo e rubéola.

O fortalecimento da vacinação no país mostrou que no Brasil a saúde deveria ser pensada levando em consideração as características dos mais de cinco mil municípios.  Com isso, em março de 1986, aconteceu a 8ª Conferência Nacional De Saúde. Foram quatro dias de conferência e quase duas décadas de preparação.

As bases para um sistema de saúde único e descentralizado foram construídas pelo movimento sanitarista desde a década de 70 e durante a 8ª conferência encontrou um reforço essencial: o entusiasmo da população, que recém havia recuperado direitos. Nesse momento, por vontade popular, o maior sistema de saúde público do mundo foi construído.

Confira o episódio na íntegra: